Tipos de Autismo, sintomas, como identificar (critérios diagnósticos DSM)

Introdução

Segundo Mello (2004), “autismo é uma síndrome definida por alterações presentes desde idades muito precoces, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no repertório de comportamentos”. Deve-se observar se os sintomas nessas áreas, quando em conjunto, limitam ou dificultam o funcionamento diário do indivíduo.

O transtorno do espectro autista, apresentado no DSM-5, resulta de uma reformulação. Esse novo termo engloba o transtorno autista (autismo), o transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância, o transtorno de Rett e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação. O diagnóstico é feito com base na observação de dois fatores centrais: 1) déficits na comunicação social e interação social e 2) padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades.

Leia também:

Autismo clássico

Autismo clássico é a forma com que a maioria de nós estamos familiarizados, embora ainda possa ser delineado em autismo de ‘alto’, ‘médio’ e ‘baixo’ funcionamento.

De acordo com Pessoa (2013), o que caracteriza o autismo de alto funcionamento é o QI médio ou acima da média, linguagem falada clara, algum prejuízo na utilização funcional, comportamento social incomum e os padrões de comportamento repetitivos ou restritivos; autismo moderado é caracterizado por QI normal ou quase normal, alguns desafios de linguagem e emocionais, comportamento social incomum, comportamento repetitivo ou restritivo; no autismo de baixo funcionamento o QI é médio ou abaixo da média, o discurso é limitado ou completamente ausente, habilidades sociais são muito limitadas, há comportamentos repetitivos e restritivos, e desafios emocionais são extremos.

Critérios diagnósticos para o Transtorno Autista (DSV IV)

  1. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2) e (3), com pelo menos dois de (1), um de (2) e um de (3):

(1) Comprometimento qualitativo da interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes aspectos:
(a) comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao nível de desenvolvimento
(c) ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (p. ex, não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse)
(d) ausência de reciprocidade social ou emocional

(2) comprometimento qualitativo da comunicação, manifestado por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhado por uma tentativa de compensar por meio de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímica)
(b) em indivíduos com fala adequada, acentuado comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversa
(c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática
(d) ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos próprios do nível de desenvolvimento

(3) padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse, anormais em intensidade ou foco                                                 

     (b) adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais
(c) maneirismos motores estereotipados e repetitivos (p. ex, agitar ou torcer mãos ou dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo)
(d) preocupação persistente com partes de objetos

  1. Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade: (1) interação social, (2) linguagem para fins de comunicação social ou (3) jogos imaginativos ou simbólicos.
  2. A perturbação não é melhor explicada por Transtorno de Rett ou Transtorno Desintegrativo da Infância.

 

Síndrome de Asperger

A síndrome de Asperger é provavelmente a segunda mais conhecida dessas condições e é essencialmente uma forma muito mais branda de autismo em que os pacientes apresentam pequenos problemas de comunicação e linguagem, juntamente com alguns comportamentos repetitivos e rituais.

Léo Kanner e Hans Asperger, em 1943 foram os primeiros médicos a estudar crianças que anteriormente recebiam o rótulo de retardadas, com problemas sociais e emocionais (Perorazio, 2009). Kanner se dedicou ao autismo clássico, e Aspeger centrou seus estudos em uma forma mais branda do distúrbio, que chamou de Síndrome de Asperger (SA).

A Síndrome de Asperger é um tipo de autismo de alto funcionamento. As crianças com o transtorno possuem alguns problemas na área social, mas não possuem nenhum atraso ou retardo global do desenvolvimento cognitivo da linguagem (Perorazio, 2009).

A maior peculiaridade da pessoa com a síndrome de Asperger é o interesse obsessivo em uma área específica, apresentando, algumas vezes, habilidades como hiperlexia ou memória para calendários (Assunção Jr & Kuczynski, 2011).

A incidência de portadores da Síndorme de Asperger é de 3 para cada 10.000 (Amorim e Assunção Jr, 2012). Geralmente o diagnóstico de um Asperger só é concluído depois dos seis anos de idade (Piauilino, 2008). Há limitação dos interesses e preocupações, aderência receptiva a rotina e rituais, autoimpostos ou impostos por outros (Assunção Jr & Kuczynski, 2011). Outra característica das pessoas com o transtorno é a resistência às mudanças (Amorim e Assunção Jr, 2012).

Critérios de diagnóstico para o Transtorno de Asperger (DSV IV)

  1. Comprometimento qualitativo da interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes quesitos:

(1) Comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social

(2) fracasso em desenvolver relacionamentos apropriados ao nível de desenvolvimento com seus pares

(3) ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (p. ex, não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse a outras pessoas)

(4) ausência de reciprocidade social ou emocional

  1. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes quesitos:

(1) insistente preocupação com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesses, anormal em intensidade ou foco

(2) adesão aparentemente inflexível a rotinas e rituais específicos e não funcionais

(3) maneirismos motores estereotipados e repetitivos (p. ex., dar pancadinhas ou torcer as mãos ou os dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo)

  1. A perturbação causa comprometimento clinicamente importante nas áreas social e ocupacional ou outras áreas.
  2. Não existe um atraso geral clinicamente importante na linguagem (p. ex., utiliza palavras isoladas aos 2 anos, frases comunicativas aos 3 anos).
  3. Não existe um atraso clinicamente importante no desenvolvimento cognitivo ou no desenvolvimento de habilidades de autocuidados próprios da idade, no comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e na curiosidade acerca do ambiente na infância.
  4. Não são satisfeitos os critérios para um outro Transtorno Global do Desenvolvimento ou Esquizofrenia.

Transtorno desintegrativo da infância

Transtorno desintegrativo da infância (ou TDI), é uma condição muito mais rara que também compartilha muitos sintomas, mas em um grau mais severo, tornando-se próxima do autismo de baixo funcionamento. Aqui as habilidades tendem a desenvolver-se normalmente, mas depois regredir em um determinado ponto – em qualquer lugar entre as idades de dois a dez anos. Esta é a principal forma como o TDI é diagnosticado, e levanta questões a respeito da causa da condição (que parece ser diferente da causa do autismo clássico).

Critérios Diagnósticos para o Transtorno Desintegrativo da Infância (DSM-IV)

  1. Desenvolvimento aparentemente normal durante pelo menos os 2 primeiros anos de vida, manifestado pela presença de comunicação verbal e não-verbal, relacionamentos sociais, jogos e comportamento adaptativo próprios da idade
  2. Perda clinicamente importante de habilidades já adquiridas (antes dos 10 anos) em pelo menos duas das seguintes áreas:

(1) linguagem expressiva ou receptiva

(2) habilidades sociais ou comportamento adaptativo

3) controle esfincteriano

(4) jogos

(5) habilidades motoras

  1. Funcionamento anormal em pelo menos duas das seguintes áreas:

(1) comprometimento qualitativo da interação social (p. ex, comprometimento de comportamentos não-verbais, fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares, falta de reciprocidade social ou emocional)

2) comprometimento qualitativo da comunicação (p. ex, atraso ou ausência de linguagem falada, fracasso em iniciar ou manter uma conversa, uso estereotipado e repetitivo da linguagem, ausência de jogos varia- dos de faz-de-conta

(3) padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, incluindo estereotipias motoras e maneirismos

  1. A perturbação não é melhor explicada por outro Transtorno Global do Desenvolvimento especifico ou por Esquizofrenia.

Transtorno de Rett

Transtorno de Rett é outra condição que compartilha alguns dos seus sintomas com autismo clássico (embora menos do que TDI) e também é de baixo funcionamento, resultando em ausência de habilidades verbais em todos, mas que também apresentam vários problemas físicos, tais como desaceleração do crescimento da cabeça. Ao mesmo tempo, eles também são propensos a apresentar distúrbios gastrointestinais, e retardo de crescimento em outros lugares. Há controvérsias atualmente sobre se deve de fato ser incluído como um transtorno do espectro autista, pois não compartilha muito mais em comum com autismo do que várias outras condições.

Bebês com transtorno de Rett nascem aparentemente saudáveis e geralmente o desenvolvimento nos primeiros seis meses de vida é normal. Após este período podem aparecer os diferentes sinais clínicos do transtorno, tais como: perda da função motora, movimentos estereotipados das mãos e descoordenação da marcha.

Apesar da existência de testes genéticos para o diagnóstico de transtorno de Rett, nem sempre os danos são identificados e ele é comumente confundido ou diagnosticado como autismo ou paralisia cerebral.

Critérios de diagnóstico para Transtorno de Rett (DSV IV)

  1. Todos os quesitos abaixo:

1) desenvolvimento pré-natal e perinatal aparentemente normal

2) desenvolvimento psicomotor aparentemente normal durante os primeiros cinco meses de vida

(3) perímetro cefálico normal ao nascer

  1. Início de todas as seguintes características após o período de desenvolvimento normal:

(1) desaceleração do crescimento cefálico entre a idade de 5 a 48 meses

(2) perda de habilidades manuais voluntárias anteriormente adquiridas entre a idade de 5 a 30 meses, como desenvolvimento subsequente de movimentos estereotipados das mãos (p. ex, gestos como torcer ou lavar as mãos)

(3) perda do envolvimento social no início do transtorno (embora em geral a interação social se desenvolva posteriormente)

(4) incoordenação da marcha ou dos movimentos do tronco

(5) desenvolvimento das linguagens expressiva ou receptiva severamente comprometido, com severo retardo psicomotor.

Leia mais:

https://www.youtube.com/watch?v=CIh41AIlPjk


Referências:

Autism Spectrum Disorders. National Institute of Mental Health. Recuperado em 16 de Novembro, 2017, de https://www.nimh.nih.gov/health/topics/autism-spectrum-disorders-asd/index.shtml

Santos, Alexandre Silva dos & Silva, Eduardo Andreotti da. Aproximar: software de apoio educacional ao ensino de gestos sociais a autistas clássicos. 2013. viii, 57 f., il. Monografia (Licenciatura em Ciência da Computação) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013. Recuperado em 16 de Novembro, 2017, de http://bdm.unb.br/bitstream/10483/7269/1/2013_AlexandreSilvaDosSantos_EduardoAndreottiDaSilva.pdf

Zanon, Regina Basso, Backes, Bárbara, & Bosa, Cleonice Alves. (2014). Identificação dos primeiros sintomas do autismo pelos pais. Psicologia: Teoria e Pesquisa30(1), 25-33. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722014000100004

Nascimento, J. C. (2004). Educação infantil e o atendimento de crianças com autismo na rede municipal de Florianópolis. Recuperado em 16 de Novembro, 2017, de https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/130406/artespedinfplfns2ed028.pdf

Carvalho, M. P., Souza, L. S. & Carvalho, J. A. Síndrome de asperger: considerações sobre espectro do autismo. Recuperado em 16 de Novembro, 2017, de

http://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-content/uploads/2014/08/sindrome-de-asperger-considera%C3%A7%C3%B5es-entro-do-espectro.pdf

Wendie, V. H. E. & Jhovana, Q. Q.. Sindrome de rett. Rev. Act. Clin. Med,  La Paz,  2017 .  Recuperado em 16 de Novembro, 2017, de http://www.revistasbolivianas.org.bo/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2304-37682014000700004&lng=es&nrm=iso

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *