História da relação entre Freud e Jung

Tudo começou em 1901 quando Jung teve o primeiro contato com a obra de Freud pelo livro A Interpretação dos Sonhos. De primeira, Jung confessou que não deu a importância devida às teorias Freudianas, mas depois de dar uma atenção maior passou a defender a divulgar a psicanálise pela Europa.

Freud reconheceu a importância disso, porque era judeu e no início do século XX, mesmo décadas antes de Hitler, o antissemitismo já era forte na Europa.

1906 – Jung envia a Freud um livro seu em que cita diversas vezes a Interpretação dos Sonhos. Freud responde a carta, agradece, mas diz que já tinha comprado um exemplar. A partir disso eles vão trocar 359 cartas, contendo informações sobre seus sonhos, análises, confidências e onde discutiam casos clínicos.

Em 1907 Jung vai da Suíça até a Áustria a convite do Freud e eles tem o primeiro contato presencial, que resulta numa conversa de 13 horas ininterruptas.

Eles se aproximaram e ganharam intimidade. Freud, 19 anos mais velho, adquiriu um sentimento paternal por Jung e o via como um “príncipe herdeiro”, seu sucessor como defensor da psicanálise.

Freud e Jung nos EUA
Primeira fileira: Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung; segunda fileira: Abraham Brill, Ernest Jones, Sandor Ferenczi. Universidade de Clark, Massachusetts, Estados Unidos, Setembro de 1909. Wikipedia

Divergência de Ideias

Jung falou em vários textos sobre a personalidade do Freud e se referiu a ele como um autor genial, que influenciou toda a cultura ocidental com o conceito de inconsciente. Com uma grande influência e personalidade forte, Freud se tornou o centro do desenvolvimento da psicanálise, e alguns que contrariavam os seus conceitos principais saíram e desenvolveram suas próprias linhas de pensamento, como Adler com a Psicologia do desenvolvimento pessoal, e Jung com a Psicologia Analítica.

Jung admitiu em certo momento que não tinha o conhecimento de Freud, e que precisava de mais experiência antes de firmar um ponto de vista próprio. Em 1910, acontece a dissidência de Alfred Adler, que coloca como ponto principal para o psicanalista o complexo de inferioridade, e não o complexo de Édipo do Freud.

Jung vê que uma mesma questão pode ser vista dos dois ângulos, sexualidade e poder. Daí surgem os tipos psicológicos. Em 1920 ele lança seu livro mais famoso (Tipos psicológicos), em que ele define conceitos como introversão e extroversão, por exemplo.

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Freud X Jung

A crítica de Freud em relação a Jung era principalmente pelo interesse dele pela paranormalidade. Ele achava que isso não era uma fonte válida de estudo e poderia prejudicar a imagem da psicanálise como ciência.

A principal crítica do Jung (e de outros) em relação a Freud era a importância exagerada que ele dava à sexualidade. O Freud mantém a sexualidade como centro da psicanálise até 1920, quando ele lança o livro Além do princípio do prazer, reformula seus conceitos principais e enfatiza os instintos de vida e os instintos de morte, mas mesmo assim Jung explora um campo bem maior.

 

Além da sexualidade

Método interpretativo Analítico X Sintético

Além da sexualidade, Jung também discordava do método interpretativo. Para ele o método do Freud era analítico, enquanto o seu era sintético.

O método analítico ou redutivo procura dividir o conteúdo psíquico – como um sonho ou sintoma – em várias partes e analisar o sentido existente ali. O método sintético (do Jung) analisa todo o contexto.

Por exemplo, se o paciente tinha sonhado com um leão na casa dele com a mãe dele, a interpretação analítica de Freud ia dividir cada parte do conteúdo e fazer a associação livre separadamente de cada parte: o leão, a casa e a mãe (e provavelmente alguma dessas coisas representaria um pênis) A interpretação sintética do Jung não foge do conteúdo, não divide. Um leão é um leão e não tem que ser associado sozinho à outra coisa.

Passado X Futuro

Outra diferença é que Freud ia buscar significados na infância do paciente, enquanto Jung buscava um sentido teleológico, o para quê. Ele considerava não só as causas do conteúdo, mas também a finalidade e a direção que aquilo poderia tomar no futuro.

O filme Um método perigoso (2011) trata da relação entre Freud e Jung, e também fala muito de Sabina Spielrein, que foi amante de Jung, paciente dos dois, e se tornou psicanalista depois, chegando a influenciar de certa forma o pensamento de ambos.

Jung mantém a Presidência da Associação Psicanalítica Internacional até 1914, mas em 1912 a relação esfria com a publicação do último capítulo do livro Símbolos da Transformação da Libido, intitulado “O Sacrifício”. Neste, Jung discorda abertamente da concepção de libido de Freud, que, naquele momento, possuía ênfase na sexualidade. Para Jung, a libido ou energia psíquica era mais ampla, envolvia não só a sexualidade, mas várias outras coisas, como o poder, a alimentação, a espiritualidade, etc.

Depois disso a relação fica tensa, e com pouca conversa. Freud chega a desmaiar duas vezes na frente de Jung, e esse último não se torna o herdeiro da psicanálise. Os dois vão estar em lados opostos, indiretamente, durante o Nazismo e a 2º guerra mundial, mas esse é assunto pra outro artigo.

 

Referências
Série de artigos do Psicologia MSN sobre a relação Freud-Jung.

1 resposta a “História da relação entre Freud e Jung”

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