A palavra Nihil é a raiz latina do niilismo. Nihil significa nada. Comumente niilismo é empregado na expressão da filosofia nietzschiana, conectado com Übermensch (o Além do homem ou Superhomem) ou a teoria do eterno retorno.
Às vezes esquece-se que Nietzsche promoveu um “bom” niilismo, como um ponto de partida para novos valores; do outro lado da moeda está o “mau” niilismo, encarnado pela filosofia do Marquês de Sade. Então, ligando três palavras-chave, o niilismo, sadismo e o “nada intencional”, influências-chave relativas a vários cineastas são alcançadas.
A visão de mundo niilista é a expressão de um puro vazio, eticamente falando, e cinema é um método principal de expressar esta filosofia. Há uma série de filmes que poderiam se enquadrar nesta categoria. Niilismo é um motivador “nos bastidores” e não é incomum encontrar filmes com base neste ponto de vista.
Por vezes, esta visão é descrita como um estado, mais do que um propósito, ou é reduzida para personagens particulares dentro o filme. Niilismo é pura negação, da própria filosofia (e cinema também) e, teoricamente falando, é impossível mostrar a qualidade perfeitamente através do olho da câmera (para melhor compreender esta afirmação pode-se considerar pontos de vista de Carmelo Bene).
Muitas vezes, os espectadores não compreendem o niilismo e acabam confundindo-o com o cinismo, o ceticismo ou relativismo. Todas essas palavras são relacionados e têm uma raiz comum, Nihil. Para resumir: um caráter niilista, muitas vezes, é cínico, cético, relativista ou qualquer e todas essas qualidades; do outro lado desta equação, um personagem cínico nem sempre é um niilista.
Uma vez que isto é compreendido, é fácil entender que o cinema está cheio de vários exemplos de niilismo. Às vezes, diretores assumem claramente pontos de vista niilistas-misantropos, onde o niilismo é o tema central ou o objetivo final do filme. Aqui está um guia para filmes niilistas valem a pena.
1. Fargo (Joel e Ethan Coen, 1996)
Em 1987 em Fargo, no Dakota do Norte, o gerente (William H. Macy) de uma revendedora de automóveis, ao se ver em uma delicada situação financeira, elabora o seqüestro da própria esposa (Kristin Rudrud) e faz um acordo com dois marginais, que ganhariam um carro novo e metade dos 80 mil dólares que seriam pagos pelo seu sogro, um homem muito rico. Mas uma série de acontecimentos não previstos cria logo de início um triplo assassinato e uma chefe de polícia grávida (Frances McDormand) tenta elucidar o caso, que continua provocando mais mortes.
Fargo não é totalmente niilista, mas ele possui um personagem verdadeiramente niilista, um dos dois assassinos, Gaer (interpretado por Peter Stormare). Este filme é uma das obras-primas de dois cineastas niilistas: os irmãos Coen.
2. Medo e Delírio em Las Vegas (Terry Gilliam, 1998)
https://www.youtube.com/watch?v=IuaPj8Qg5R4
Enviado para Las Vegas para cobrir o Mint 400, uma corrida de motos no deserto, o jornalista Dr. Thompson (Johnny Depp) e seu advogado (Benicio Del Toro) se encontram numa cidade onde somente drogas poderosas podem fazer com que as coisas sejam ligeiramente normais.
Terry Gilliam faz um bom trabalho ao replicar o niilismo do livro. Johnny Depp, retratando Thompson, dá um de seus melhores desempenhos. À primeira vista, muita gente não conseguia entender a mensagem deste filme. Este não é apenas um filme delirante sobre drogas, mas algo mais além. Na visão deste filme todo o sonho americano terminou em drogas e nada.
3. Psicopata Americano (American Psycho) (Mary Harron, 2000)
Patrick Bateman (Christian Bale) jovem, branco, bonito e sem nada que o diferencie de seus colegas de Wall Street. Protegido pela conformidade, privilégio e riqueza, Bateman também um serial killer, que vaga livremente e sem receios em busca de uma nova vítima. Seus impulsos assassinos são abastecidos por um zeloso materialismo e uma inveja torturante quando ele encontra alguém que possui mais do que ele. Após um colega dar-lhe um cartão de visitas melhor que o seu em tinta e papel, a sede de sangue de Bateman surge e ele aumenta ainda mais suas atividades homicidas, tornando-se um perigoso e violento psicopata.
Mary Harron insere uma qualidade irônica que dá um toque especial ao complexo conto, quase nietzschiana.
4. Ponto Final (Match Point) (Woody Allen, 2005)
Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers) é um jogador de tênis profissional que, cansado da rotina de viagens, decide abandonar o circuito e se dedicar a dar aulas do esporte em um clube de elite. É lá que conhece Tom Hewett (Matthew Goode), filho de família rica que logo se torna seu amigo devido a alguns interesses em comum. Convidado para ir à ópera, Chris lá conhece Chloe (Emily Mortimer), irmã de Tom. Logo os dois iniciam um relacionamento, para a alegria dos pais dela. Só que Chris fica abalado quando conhece Nola Rice (Scarlett Johansson), a bela namorada de Tom que não é bem aceita pela mãe dele.
Praticamente todos os filmes de Woody Allen apresentam histórias niilistas ou caracteres niilistas. Match Point mostra a crueldade do homem em sua forma mais pura. Allen não só mostra como o mal pode subverter a justiça, mas também como os mantenedores de justiça podem acabar ficando muito longe de “vencedores”. Este filme cita o autor russo Fiódor Dostoiévski, mas Allen zomba dele, invertendo o destino de seu personagem Raskolnikov de Crime e Castigo.
5. Réquiem para um Sonho (Darren Aronofsky, 2000)
Se Medo e Delírio em Las Vegas mostrou o lado cômico e grotesco da cultura das drogas, Réquiem para um Sonho mostra o abismo puro dela. Neste filme, o espectador não fica com personagens niilistas, mas com um ambiente niilista. A história gira em torno de dependência de drogas em vários aspectos do início ao fim. Aronofsky criou uma série de edições curtas, a fim de evocar uma espécie de efeito de alucinação sobre o espectador.
6. Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971)
https://www.youtube.com/watch?v=dUGydBJrQH0
No futuro, o violento Alex (Malcolm McDowell), líder de uma gangue de delinquentes que matam, roubam e estupram, cai nas mãos da polícia. Preso, ele recebe a opção de participar em um programa que pode reduzir o seu tempo na cadeia. Alex vira cobaia de experimentos destinados a refrear os impulsos destrutivos do ser humano, mas acaba se tornando impotente para lidar com a violência que o cerca.
Este filme é um clássico icônico que manifesta um espírito niilista. Isto é particularmente verdade na primeira parte do filme, que é centrada na “ultra-violência” provocada por uma gangue de “droogs”. Esta realidade distópica poderia ser rotulada com um subtítulo: a história de um niilista na sociedade.
Leia também: A crítica de laranja Mecânica à Psicologia Comportamental
7. Dogville (Lars Von Trier, 2003)
Anos 30, Dogville, um lugarejo nas Montanhas Rochosas. Grace (Nicole Kidman), uma bela desconhecida, aparece no lugar ao tentar fugir de gângsters. Com o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), o auto-designado porta-voz da pequena comunidade, Grace é escondida pela pequena cidade e, em troca, trabalhará para eles. Fica acertado que após duas semanas ocorrerá uma votação para decidir se ela fica. Após este “período de testes” Grace é aprovada por unanimidade, mas quando a procura por ela se intensifica os moradores exigem algo mais em troca do risco de escondê-la. É quando ela descobre de modo duro que nesta cidade a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade.
Lars Von Trier é certamente um dos melhores diretores niilistas do cinema. Em seus filmes, é fácil de detectar traços anti-sociais. Sua ideia do niilismo é especial: seus personagens principais são raramente niilistas. Pelo contrário, eles são pessoas virtuosas. O problema é que o mundo inteiro que os rodeia é um vazio cruel e injusto.
8. Onde os fracos não tem vez (No Country for Old Men) (Joel e Ethan Coen, 2007)
O niilismo está sempre presente no cinema de Coen, mas aqui ele atinge sua apoteose, provavelmente devido ao fato de que este filme é baseado em um romance escrito por um escritor niilista: Cormac McCarthy.
Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss (Josh Brolin), que pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones).
9. Violência gratuita (Funny Games) (Michael Haneke, 1997 & 2007)
Uma família em férias recebe a inesperada visita de dois jovens profundamente perturbados em sua casa de campo, aparentemente calma e tranquila. A partir de então suas férias de sonhos se transformam em pesadelo.
Neste filme Haneke tem provavelmente encontrou o limite extremo da vazio ético na representação filme. Ele quer mostrar a impotência completa de bondade para com a imensa crueldade trazida pelo niilismo. Esta é uma simplificação, mas, talvez, apenas um reflexo da dureza do próprio niilismo. Niilismo nega todo o conceito de estilo (exceto a reavaliação nietzschiana de todos os valores) e simples dureza é uma possível reacção em relação à vida cotidiana.
10. Saló ou Os 120 Dias de Sodoma (Pier Paolo Pasolini, 1975)
Em 1944, na cidade de Saló ocupada por nazistas, no norte da Itália, quatro fascistas sequestram 16 jovens saudáveis e os aprisionam em um palácio perto de Marzabotto. Além deles, há quatro mulheres de meia-idade, sendo que três delas relatam as histórias de Dante e de Sade, e a quarta acompanha ao piano. Na mansão vigiada por guardas, os fascistas vão cometer todo tipo de experiências com os jovens, que passam a ser usados como objetos de sadismo e tortura psicológica, entre outras coisas.
Se Violência Gratuita mostra o lado escuro, puro sadismo, sem qualquer mediação, Saló ou Os 120 Dias de Sodoma amplia esse contexto. Sadismo é apenas uma face do fascismo no seu extremo: essa é a explicação do diretor de Pasolini para ele.
Filme com cenas extremas e chocantes, onde o lado mais escuro do niilismo atinge um nível terrível. Pasolini equivale o fascismo absoluto com sadismo absoluto através da corrupção do poder burguês. A hierarquia não só nega todos os valores, mas também a própria humanidade.
Sobre o autor: Luca Badaloni está fazendo mestrado em Filosofia. Ele acredita que o cinema é um instrumento perfeito para ideias filosóficas e, na verdade, a sociedade precisa de pensamento crítico de várias maneiras. Ele gosta de escrever roteiros, filmes curtos diretos, mas principalmente, ele adora leitura.
Via Taste of Cinema
Sinopses: Adoro Cinema
Só acho que faltou outra obra primorosa dos irmãos coen, que faz referência direta ao nilismo, de forma mais bem mais explicita do que qualquer um dessa lista.
The BIG Lebowski.
Esqueceram da família adms
Nao entendo pq o niilismo e associado dessa forma a perca de valores éticos e morais, a transposição e aonde o homem encontra seu limite, eu nao sigo valores morais ou éticos, me projeto como ser humano no teatro da vida, interpretando a mim mesmo em uma serie de repetições da mesma peça.