Estresse, Burnout e Estratégias de enfrentamento

Por Carollina Guilhermino

Vivemos em uma sociedade cada vez mais adoecida. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2017) houve um aumento nas taxas de transtornos de ansiedade e de transtornos depressivos no mundo todo.

No Brasil essa realidade não é diferente. Somos o país que possui a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade do mundo (23,93%) e estamos na quinta posição no ranking mundial em casos de transtornos depressivos (5,8%) (OMS, 2017). 

Porém, não são apenas transtornos de ansiedade e transtornos depressivos que afetam nossa população. Segundo uma pesquisa do International Stress Management Association (ISMA-BR) realizada em 2019, o Brasil ocupa a segunda posição dos países mais afetados pelo estresse no mundo, afetando 70% da população.

Os principais estressores apresentados pela pesquisa são: trabalho (devido a longas jornadas e muitas tarefas), dificuldades financeiras, violência e relacionamentos interpessoais.

Foi destacado também que 30% dos brasileiros que sofrem com o estresse desenvolvem a Síndrome de Burnout.

O que é estresse?

Segundo Taylor (2015) ‘Stress is a negative emotional experience accompanied by predictable biochemical, physiological, cognitive, and behavioral changes that are directed either toward altering the stressful event or accommodating to its effects’ (Taylor, 2015,p.113).

Tradução livre: ‘O estresse é uma experiência emocional negativa acompanhada de mudanças bioquímicas, fisiológicas, cognitivas e comportamentais previsíveis, direcionadas à alteração do evento estressante ou à acomodação de seus efeitos’

O que é a Síndrome de Burnout?

Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) 

Burn-out is a syndrome conceptualized as resulting from chronic workplace stress that has not been successfully managed. It is characterized by three dimensions: 1) feelings of energy depletion or exhaustion; 2) increased mental distance from one’s job, or feelings of negativism or cynicism related to one’s job; and 3) reduced professional efficacy. Burn-out refers specifically to phenomena in the occupational context and should not be applied to describe experiences in other areas of life. (CID, 2019)

Tradução livre: A síndrome do esgotamento (burnout) é uma síndrome conceituada como resultado do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.

É caracterizada por três dimensões:

  1. sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia;
  2. maior distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e
  3. eficácia profissional reduzida.

O esgotamento refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida.

Podemos perceber, portanto, que o estresse e a Síndrome de Burnout estão muito ligados a contextos do trabalho. 

Estratégias de enfrentamento do estresse (coping)

Internacionalmente, as estratégias de enfrentamento são denominadas coping, que pode ser definido como: os pensamentos e comportamentos usados para gerenciar as demandas internas e externas de situações que são avaliadas como estressantes (Taylor, 2015,p.135). Portanto, são um conjunto de estratégias que as pessoas utilizam para se adaptar a circunstâncias estressoras, ameaçadoras e desafiantes. 

Algumas estratégias de enfrentamento comumente utilizadas:

  • Mindfulness,
  • Escrita expressiva,
  • Auto-afirmação,
  • Treinamento de relaxamento.

O Mindfulness é a atenção plena no presente. O indivíduo é ensinado a se concentrar em algum estímulo específico no momento, sem se distrair com outros. O objetivo é reduzir o estresse e ajudar as pessoas a abordarem situações estressantes de forma consciente ao invés de reagir de forma automática a eles. Pode ser eficaz também na redução de ansiedade e angústia (Taylor, 2015).

Na escrita expressiva o indivíduo é estimulado a escrever ou falar sobre eventos traumáticos ou eventos que os incomodam. Foi descoberto que essa técnica pode ajudar na diminuição do estresse pois enfrentar de forma consciente os sentimentos ligados ao evento estressor pode reduzir a atividade fisiológica associada a este (Taylor, 2015).

A divulgação de emoções pode ter efeitos benéficos na saúde. Por muitos anos, os pesquisadores suspeitaram que quando as pessoas sofrem eventos traumáticos e não podem ou não se comunicam sobre eles, esses eventos podem “inflamar” dentro deles, produzindo pensamentos obsessivos por anos e até décadas. Essa inibição de eventos traumáticos envolve trabalho fisiológico, e quanto mais as pessoas são forçadas a inibir seus pensamentos, emoções e comportamentos, mais sua atividade fisiológica pode aumentar (Taylor, 2015, p.145)

A estratégia de auto-afirmação é baseada na teoria de auto-afirmação que destaca que quando as pessoas afirmam seus valores de forma positiva, elas se sentem melhores consigo mesmas e se sentem menos angustiadas. Esse tipo de intervenção pode ajudar as pessoas a lidarem melhor com o estresse porque ajuda a diminuir a frequência cardíaca e a pressão arterial (Taylor, 2015). 

Quando as pessoas se envolvem em breves exercícios de auto-afirmação, praticam melhores hábitos de saúde, e a auto-afirmação também pode minar as reações defensivas às ameaças à saúde (Taylor, 2015, p.145)

O treinamento de relaxamento afeta as reações fisiológicas do estresse e possui como objetivo reduzir a excitação, frequência cardíaca, tensão muscular, ansiedade, pressão arterial e outros. Podemos conseguir esse efeito com exercícios de respiração profunda, meditação transcendental, ioga, auto-hipnose e outros (Taylor, 2015).

Existem diversas estratégias de enfrentamento além das citadas acima que podemos utilizar no nosso dia a dia e em diversos ambientes. Essas técnicas nos ajudam a conquistar uma vida mais agradável e menos estressante. 

Referências:

Carlotto, M. S., Câmara, S. G., Otto, F., & Kauffmann, P. (2009). Síndrome de burnout e coping em estudantes de Psicologia. Boletim de Psicologia, 59(131), 167–178.

CID-11—Estatísticas de Mortalidade e Morbidade (2019). https://icd.who.int/browse11/l-m/en#/http://id.who.int/icd/entity/129180281

Christofoletti, G., Trelha, C. S., Galera, R. M., & Feracin, M. A. ([s.d.]). Síndrome de burnout em acadêmicos de fisioterapia. 5.

Taylor, S. E. (2019). Health psychology (9th ed). New York, NY: McGraw-Hill.

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