Einstein se afasta de Deus e se aproxima de Freud em carta de US$ 3 milhões

“A palavra Deus é para mim nada mais do que a expressão e produto da fraqueza humana”

“A religião judaica, como todas as outras religiões é uma encarnação das superstições mais infantis

Em uma carta escrita pouco antes de morrer e leiloada por 3 milhões de dólares, a opinião de Einstein sobre a religião se aproxima da visão de Freud e afasta a ideia de que ele acreditava em Deus.


Do: G1

“Carta de Deus de Einstein vendida por 3 milhões de dólares

No texto, cientista alemão se refere à Bíblia como ‘coleção de lendas’.

A carta de Einstein, escrita à mão em alemão, era destinada ao filósofo Erik Gutkind, de quem ele havia lido a obra: “Escolha a vida: o apelo bíblico pela revolta”.

“A palavra ‘Deus’ não é para mim nada além da expressão e o produto de fraquezas humanas, e a Bíblia é uma coleção de lendas honoráveis, embora primitivas e bastante infantis. Nenhuma interpretação, não importa quão sutil, pode mudar isso [para mim]”, escreveu o físico.


A carta de Deus de Einstein

Passagens chave da tradução de um resumo da carta de Albert Einstein para Eric Gutkind de Princeton, em janeiro de 1954, traduzida do alemão por Joan Stambaugh:

“… Eu tendo lido muito nos últimos dias seu livro, e muito obrigado por enviá-lo para mim.

(…) … A palavra Deus é para mim nada mais do que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia uma coleção de lendas honradas, mas ainda primitivas, que são, no entanto, bem infantis. Nenhuma interpretação, não importa quão sutil seja, pode (para mim) mudar isso.

(…) Para mim, a religião judaica, como todas as outras religiões é uma encarnação das superstições mais infantis. E o povo judeu a quem eu de bom grado pertenço e com cuja mentalidade tenho uma profunda afinidade não têm qualidade diferente para mim do que todas as outras pessoas.

Agora que eu tenho declarado abertamente as nossas diferenças em convicções intelectuais é ainda claro para mim que estamos muito próximos um dos outro em coisas essenciais, ou seja; em nossas avaliações do comportamento humano. O que nos separa são apenas ‘adereços’ intelectuais e “racionalização” na linguagem de Freud. Portanto, eu acho que nós entendemos um ao outro muito bem se nós falamos sobre coisas concretas.

Com agradecimentos e cumprimentos amigáveis,
A. Einstein

 

4 respostas a “Einstein se afasta de Deus e se aproxima de Freud em carta de US$ 3 milhões”

  1. Essa carta Einstein escreveu em 1954 ao seu amigo o filósofo judeu Eric Gutkind que defendia o povo de Israel como “escolhido” e Einstein questiona isso com muita inteligência!

  2. Freud não acreditava em Deus, mas tinha medo da morte.
    Einstein acreditava no Deus criado pelas religiões, mas acreditava num Ser que dá continuidade a vida, já Freud entrou em depressão com medo da solidão chamada de túmulo.

  3. A diferença está na finitude, como dizia Descartes, se Deus não existisse, precisaríamos inventar um, como Lacan pensava… Um Pai….eterno…que nunca perecessem, um Pai herói como pensava Jung, mas que esperaremos de um vento sem referencias, que fala o que pensa, nos obrigando a regredir.

    1. Lucas, você me fez lembrar o por quê odeio aforismos… O conteúdo do livro do Eric Gutkind está repleto de ideias místicas voltadas a cabalá que tanto Freud quanto Einstein não tinham o menor interesse, creio que tinham repulsa.

      Einstein na sua carta repulsa dois conceito importantes, a palavra como categoria de ação (manipulação do real) e a ideia de uma supremacia moral judaica associada a escolha divina (escolha e não ao exercício moral).

      Quanto a primeira, existem segmentos dentre os seguidores da cabalá que supervalorizam as palavras, palavras como conceitos, imprimindo nelas valores que superabundam a tentativa de expressão através da linguagem. Essa mística não é originária no judaísmo, mas inserida nele na idade média. Einstein na sua carta deixa claro que banaliza esse ideário, imprimindo um significado que está além de dizer que não acredita em um deus. Cita Spinoza pois corrobora com a ideia de deus como causa imanente, e não transitiva, de todas as coisas. Muito diferente de deixar num texto a ideia de ateísmo.

      Quanto a segunda, uma proposta base do judaísmo é o proselitismo, mas não um proselitismo ecumênico, senão aquele que conduz a valores morais alinhados com seu textos sagrados. É muito diferente ser ator de uma moral e ser o detentor do uso dessa moral (o principal perigo dos ditos “mandamentos orais” que não estão na torah). O texto de Gutkind, assim como parte do judaísmo interpreta essa escolha como revelação de algo especial dentre os outros. Isto que Einstein está atacando racionalmente.

      Quanto a sua citação de Descartes, “se Deus não existisse, precisaríamos inventar um”, me parece um pouco estranho ao método que ele propõem no Discurso do Método. Estou a um fio de ler as Meditações Metafísicas, por ser o próximo na minha lista, seria interessante que você pudesse aprofundar nessa concepção. De Lacan estou ainda caminhando, como um bebê mesmo.

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