Por Amanauê, 25 anos, estudante de Psicologia e administrador do @oprojetopsico.
Como você vem olhando os acontecimentos em sua vida? Você os considera provenientes de uma relação causal do que te rodeia ou é tudo uma questão de destino?
Quando interpretamos o resultado das atividades que nos cerceiam como sendo de responsabilidade do ambiente ou de outra pessoa, podemos chamar isso de lócus de controle externo, ou seja, o controle das coisas tem origem no externo. Inversamente, quando se acredita que os resultados e os caminhos traçados têm maior ou total influência de si mesmo, essa então é uma crença de lócus de controle interno, quando a consequência do que se fez é resultado de um esforço predominantemente interno.
Esse tipo de crença nasce em questões aprendidas quase sempre na infância. Crianças que entendem que seus comportamentos influenciam no resultado, crescem acreditando que podem moldar o ambiente; ao passo que existem crianças que se comportam com um objetivo final estabelecido, porém, este não exerce (tanta) influência sobre o resultado, criando ao longo do tempo uma crença de pouco controle sobre suas ações.
Essas situações acontecendo ao longo de toda a infância, geram padrões de interpretação que vão formando parte importe da personalidade. Esse aprendizado cognitivo forma, portanto, uma parte do indivíduo e pode ter consideráveis implicações em decisões importantes em sua trajetória, podendo impactar na decisão de qual carreira seguir até a escolha pelo seu voto, por exemplo.
O principal fator que impacta na formação do lócus de controle (LC) da pessoa é a cultura em que está inserida e como as informações chegam até ela. Detalhando um pouco mais, podemos citar desenvolvimento socioeconômico, religião, educação e presença paternal. Todos esses fatores tem relevância nas ações da criança e no resultado esperado.
Portanto, pode-se concluir que a forma como vemos as situações e damos os respectivos pesos e responsabilidades são definíveis através da nossa vivência, de diferenças culturais e tudo isso acontecendo de forma consciente na nossa mente. Isso é parte de nossa personalidade e a forma com que essas características são tratadas em cada pessoa é que molda as diferenças de cada um e proporciona seres humanos repletos de opiniões diferentes.
Algumas implicações em pessoas com lócus de controle interno ou externo podem ser discutidas e colocadas como atenção para pais e psicólogos: pessoas com o lócus de controle mais interno tendem a puxar a responsabilidade para si e até mesmo a valorizarem mais as suas habilidades, afinal, “foram elas” que deram o resultado esperado.
O lócus de controle externo teoricamente faz com que as pessoas se engajem menos em situações que não viram retorno, uma vez que pensam que as suas ações não surtiram efeito algum; por isso, ao não se comportarem com frequência, pessoas com lócus de controle externo têm mais probabilidade de desenvolverem depressão, ansiedade e síndrome do pânico, por exemplo, porque acreditam que a responsabilidade está no externo e portanto se comportam menos, criando assim, uma bola de neve e cada vez menos resultados.
Transtornos como a Síndrome do Impostor é outro exemplo de patologia que pode se formar em razão de um lócus de controle mal trabalhado: a pessoa não se sente merecedora de determinada conquista porque acredita que não foi responsável por aquele sucesso; aqui conseguimos identificar uma crença de lócus de controle externo juntamente com uma baixa autoestima por não se considerar eficaz nas conquistas que teve – aquilo foi sorte ou acaso. Se isso não for manejado ou tratado, pode-se ter uma evolução para ansiedade ou até mesmo depressão, uma vez que a autoimagem já está prejudicada.
Com uma análise mais atual, o risco do lócus de controle interno e de mantermos as responsabilidades de todos os atos que nos rodeiam em cima de nós mesmos, é desencadear ansiedade e culpa em caso de não conseguirmos realizar tudo que queríamos.
A ansiedade vem da quantidade de responsabilidades que são cobradas. A culpa vem logo após não se dar conta de realizar todas essas atividades que foram demandadas. Junto com a quantidade de atividades podem aparecem também a procrastinação, sentimento de incapacidade e a ira ou péssima visão de si mesmo pela não finalização das atividades.
A máxima de que todos os extremos são ruins se aplica aqui de forma perfeita: um lócus de controle extremamente interno ou externo pode causar ansiedade; a dica aqui é tentar ao máximo ponderar o que realmente aconteceu em cada situação e trazer o peso devido para cada resultado obtido, afinal, é certo que não temos total controle de todas as situações em que estamos envolvidos.