Influências na Psicologia Analítica de Jung

O trabalho de Jung recebeu diversas influências, não só da época em que nasceu e dos pensadores que o antecederam, como também do conjunto de suas experiências pessoais.

Dessa forma, para conhecermos os fundamentos epistemológicos do pensamento junguiano, devemos conhecer o homem que viveu e criou esta teoria, além de homens anteriores ou contemporâneos a ele e que, de algum modo, o influenciaram. Entre eles estão pensadores do século XVIII, como Kant, Hegel, Schopenhauer, Hartmann e Nietzsche.

A influência de Kant na Psicologia Junguiana

Segundo Clarke (1992), o conhecimento para Kant (1724-1804) era limitado pelo modo como as coisas parecem aos cinco sentidos humanos, de forma que aquilo que conhecemos é o que percebemos da realidade, não existindo, necessariamente, uma correspondência entre a forma com que as coisas parecem e a realidade. Jung compartilhava da ideia de que aquilo que conhecemos é derivado de nossa percepção, de modo que todo o conhecimento que temos é mediado pela mente e limitado à experiência humana.

Kant dizia que a condição necessária para a possibilidade de conhecimento era o fato de que este é organizado e articulado em termos de categoria “que não são em si derivados da experiência, mas, existem a priori na mente e constituem um conjunto de regras que determinam a maneira como experimentamos e compreendemos o mundo” (Clarke, 1992:53).

Assim, as categorias a priori seriam uma condição logicamente necessária para o conhecimento. Segundo este mesmo autor, as estruturas a priori da obra de Jung são as arquétipos que constituem a estrutura da psique, comum à humanidade, que possibilitam o conhecimento.

De acordo com Clarke (1992), embora Jung tenha tido muitas influências da obra neokantiana, tal como seu contemporâneo Ernst Cassirer (1874-1945) pensador judeu-alemão, ele defendia a ideia de que as experiências do mundo não nos dão acesso à realidade, mas é apenas através da mediação dos símbolos e mitos que o conhecimento torna-se possível. Além disso, tais elementos de mediação variam de acordo com a história e com a evolução cultural. Assim, cada cultura possui estruturas simbólicas diferentes.

A influência de Hegel em Jung

George Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) considerava que toda realidade estava submetida a um constante e complexo movimento dialético.

Clarke (1992) comenta que tanto Hegel como Jung concebiam que a psique não era estática. Para Jung há uma evolução contínua da psique a partir de raízes inconscientes, que está empenhada em atingir um estado mais alto de realização e expressão do si mesmo.

Tal empenho tem essencialmente uma natureza dialética, ou seja, parte de um conflito entre “tendências opostas que, através de sua própria oposição, proporciona a energia mediante a qual psique é sublimada e atinge um estado mais alto” (Clarke, 1992:94).

Entretanto, Jung rejeitou a ideia racionalista de Hegel a respeito da sucessão inevitável de estágios pela qual a história se dá e a hipótese de que tal sucessão culminaria em um desfecho final. Vale lembrar, contudo, que Jung percebia a importância de considerar seus estudos psicológicos dentro de um contexto cultural e histórico.

Ainda segundo Clark, outro ponto em comum existente entre Hegel e Jung é a crença de que o desenvolvimento do potencial do ser humano é o que dá significado à vida. Durante este processo de desenvolvimento seria fundamental que houvesse uma maior percepção da Consciência, o que acarretaria a consciência do si-mesmo; estaríamos, então, nos referindo à busca da integração da personalidade total.

A influência de Schopenhauer na Psicologia Analítica

Arthur Schopenhauer

Assim como Hegel, Arthur Schopenhauer (1788-1860) acreditava na evolução da mente. Schopenhauer considerava a realidade como algo ininterrupto,

“estendendo-se dos aspectos mais primevos e indiferenciados da natureza, em um dos extremos, às formas mais diferenciadas e altamente desenvolvidas, no outro, impelidos para adiante no sentido de maior dessemelhança, de acordo com o que chamavam “princípio de individuação”. Esta última expressão veio a ser mais tarde usada por Jung para caracterizar o que julgava ser o objetivo final e o ideal do desenvolvimento humano” (Clarke, 1992:98).

Para Clarke, o ponto em comum mais importante entre Schopenhauer e Jung era a ideia de que a consciência do si-mesmo vem de um nível mais profundo da realidade, as formas racionais da consciência não passam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas fere a lei e a razão: a consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta (Schopenhauer, 1974). Entretanto, diferentemente de Schopenhauer, Jung nunca sugeriu que a consciência racional fosse apenas uma manifestação do inconsciente, determinada por ele.

Eduard von Hartmann (1842-1906) teve influências de Schopenhauer e, de acordo com Clarke (1992), Jung mencionou-o como alguém que contribuiu na formulação da concepção de inconsciente em seus aspectos culturais e pessoais.

A influência de Nietzsche em Jung

Outro filósofo que recebeu influências de Schopenhauer foi Nietzsche (1844-1900), que, assim como Jung, “rejeitou categoricamente a ideia do si-mesmo como um tipo de substância simples, soberana em seu próprio domínio, que se revela no imediatismo da consciência do si-mesmo.”
(Clarke, 1992:103), pois a consciência humana era concebida como parte de um processo dinâmico da vida humana e a individuação era a possibilidade de significação da vida.

A influência da vida de Jung sobre a Psicologia Analítica

Jung buscou conhecer e pesquisar a natureza humana através de suas mais diversas manifestações em todos os tempos para tentar esboçar um perfil do que é a psique.

“Na arqueologia, na história, nas religiões, na arte de todos os tempos e de todos os lugares ele foi coletando e pesquisando as características humanas. Buscou também na física e na química antiga (alquimia) como havia sido formulado o conhecimento da vida e do mundo, nesse caminho deparou-se com semelhanças intrigantes e misteriosas” (Pena, 1995, 15).

Vale ressaltar que, além das influências filosóficas e culturais, as experiências pessoais de Jung influenciaram sua visão de homem e mundo:

Minhas obras podem ser consideradas como estações de minha vida; constituem a expressão mesma do meu desenvolvimento interior (…). Minha vida é minha ação, meu trabalho consagrado ao espírito é minha vida; seria impossível separar um do outro”. (Jung, 1963:194).

Jung entendia o homem como sendo constituído por um corpo intrinsecamente integrado ao psíquico, criador assim como criatura da cultura e integrante-participante do meio ambiente, ou seja, um ser eco-bio-psíquico-social, que contém aspectos herdados geneticamente, que lhe define e é comum a sua espécie, ao mesmo tempo em que confere imparidade, isto é, individualidade.

O mundo para Jung é, foi e está constantemente sendo criado e recriado. Formado e transformado a partir das possibilidades que o homem traz dentro de si, através de suas manifestações e realizações existenciais. A partir destas possibilidades o homem cria, faz, elabora, constrói e é formado, criado e construído.

Para investigar os conteúdos do inconsciente, Jung (1981) relata em sua primeira conferência que se utiliza  da associação de palavras, análise dos sonhos e a imaginação ativa.

De acordo com Penna (1995), podemos considerar o método utilizado por Jung como circuambulatório, em outras palavras, um método consiste em apreender o objeto de estudo considerando o que está ao seu redor com o intuito de conhecer todas as suas facetas; além disso, Jung amplifica (por meio do método da amplificação) esta visão que se tem do objeto através da análise do material simbólico, assim existe a possibilidade de a consciência apreender aspectos novos do objeto.

Ao mesmo tempo, o modo de perceber o mundo e o homem é hermenêutico, ou seja, uma forma interpretativa do objeto de estudo considerando os motivos, a finalidade, o tempo e o contexto em que está inserido.

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