O romance de Hannah Arendt e Martin Heidegger

          Ninguém resiste a uma boa história de amor, né? Ainda mais quando  o amor é extraconjugal e ela judia e ele filiado ao partido nazista. Esse caso peculiar é o de Hannah Arendt e Martin Heidegger, importantes nomes para a filosofia e importantes inspirações um para o outro.

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Era 1923 quando Heidegger foi nomeado professor adjunto de filosofia na pequena e histórica Universidade de Marburg na Alemanha central e foi na sala de aula que conheceu, um ano depois, a bela e jovem Hannah Arendt.
Hannah era sua  aluna, mal completara 18 anos (enquanto ele já tinha seus 35) quando começaram as discussões filosóficas e a construção de um sentimento além da parceria aluno-professor. Começaram a navegar por um mar agitado de sentimentos.

A esposa de Heidegger, Elfride, e Hannah eram extremos opostos. A primeira era conservadora e imperialista, racista e crente à supremacia alemã. Já nossa jovem amante era judia e liberal.

Fica claro, por meio de inúmeras cartas, que Heidegger estava, pela primeira vez, experimentando e ardendo no fogo da paixão. Sua aluna tornou-se tudo pra ele, sua musa inspiradora.

Hannah também estava claramente apaixonada por seu mestre, porém, esse caso de amor não poderia ser um caso comum, muito menos simples. Marburg era uma cidade minúscula e basicamente habitada por estudantes, o que fazia com que o período das férias fosse o período do vizinha-você-viu-o-que-fulana-fez-? e isso não é nada bom para nossos pombinhos. Heidegger punha em risco não só sua cadeira na Universidade como toda sua carreira – e esta foi a única vez que se arriscou desse jeito.

Os encontros na água-furtada de Hannah eram precedidos de cartas cheias de instruções e o segredo dos dois era guardado em total sigilo, com 7 chaves e muitos cadeados. Até que Heidegger não aguentou mais. Depois de um ano nesta surdina, cheio de tensão, a preocupação com sua autoimagem foi colocada acima do que sentia e ele sugeriu a Hannah que se mudasse para Heidelberg e continuasse seus estudos ali.

Ele sempre a visitava quando viajava para dar palestras em outras universidades e ela, largava tudo o que estava fazendo para ir ao encontro dele. Acabou começando um caso com um aluno a fim de que Heidegger estabelecesse um compromisso, mas não foi assim que ele lidou com a situação e Hannah acabou se casando com o rapaz.
Apesar de tudo, um jamais esqueceria ou superaria o outro e esses sentimentos reminiscentes empenharam papéis cruciais na vida dos dois amantes.

         Heidegger lançou sua principal obra, Ser e Tempo, em 1927, em que é discutida a questão do sentido do ser. O que é ser? Temos em nosso tempo uma resposta para a questão do que de fato queremos dizer com a palavra ‘ser’? Estamos hoje em dia pelo menos perplexos por nossa incapacidade de compreender a palavra ‘ser’? Inúmeras questão complexas acerca da existência que ficam para um próximo post.

Enquanto Hannah seguia sua carreira promissora como filósofa política nos Estados Unidos, Heidegger se filiava ao partido nazista para se tornar reitor da Universidade de Freiburg, onde havia se formado. Ela rapidamente enviou uma carta ao seu admirado mestre, abismada e exigindo uma explicação, e ele logo tratou de esclarecer e negar qualquer antissemitismo.

Hannah foi fundamental na divulgação das ideias heideggerianas e foi a principal semeadora dos conceitos contidos em Ser em Tempo para os norte americanos.

Romantissímamente falando, o casal esteve junto até na morte. Ela faleceu em 1975 e ele, um ano depois, em 26 de maio de 1976.

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