Você é um cérebro numa cuba? A bizarra teoria de Hilary Putnam

Cérebro numa cuba (que é um pote, recipiente) … Isso soa terrível, não é? O argumento do cérebro numa cuba de Hilary Putnam é uma das mais famosas experiências de pensamento em filosofia da mente.
Muitas pessoas levantam objeções à teoria do cérebro numa cuba, mas há, de fato, quaisquer argumentos contra essa ideia? Você pode argumentar contra isso?

A teoria do cérebro numa cuba

Cérebro numa cuba é um conjunto de argumentos que são utilizados para apoiar a percepção cética em relação ao mundo e à teoria do solipsismo. O problema do cérebro em uma cuba tem uma notável semelhança com as teorias mais antigas, como o argumento do sonho de Zhuangzi ou Chuang Tzu (filósofo taoísta que inspira a música O conto do sábio chinês, do Raul Seixas), também pode ser relacionado com o Mito da caverna do Platão, a ideia do gênio maligno de Descartes, e com Matrix.
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Mas o que é cérebro em uma cuba na prática?

cerebro numa cubaImagine um cientista do mal cujo conhecimento avançado permite-lhe remover o seu cérebro e colocá-lo em um tanque com todos os nutrientes que são necessários para manter o órgão vivo. Antes de seu cérebro ser removido havia a recepção de sinais elétricos através de neurônios em seu corpo. Agora, ele é colocado em um tanque no laboratório do cientista do mal e recebe sinais por estimulação elétrica proveniente de um computador

O cientista é capaz de estimular o seu cérebro de todo jeito que ele quer – ele é capaz de criar uma impressão de que você está lendo o blog Psicoativo como se fosse os neurônios que estivessem transportando essa informação para o cérebro. Ele pode criar uma impressão de que você come o seu almoço, lê um livro etc. Não há nenhuma maneira de você perceber que você é um cérebro em uma cuba desde que a sua percepção do mundo é limitada ao seu cérebro. Se ele estiver danificado ou sob influência de drogas, podem ocorrer alucinações ou você pode ter uma visão distorcida do seu ambiente.

Matrix e a teoria do cérebro numa cuba

O efeito na experiência do cérebro numa cuba é semelhante ao que acontece em Matrix. Os seres humanos estão vivendo em um mundo simulado em suas mentes, enquanto seus corpos estão em uma espécie de coma, presos em um recipiente, como se estivessem sonhando. Nos dois casos, toda a vida da pessoa se passa dentro do cérebro, sem que ela perceba que aquilo não é real. (até chegar o Morfeu com a pílula vermelha…)

Descartes e a teoria do cérebro numa cuba

René Descartes fornece um argumento que é muitas vezes usado para refutar a teoria do cérebro em uma cuba. Cogito ergo sum – penso, logo existo. No entanto, este argumento tem sido muitas vezes criticado por sua premissa oculta: “Tudo o que pensa existe”. Nem Descartes justificar a premissa, nem menciona. Ressalte-se que é impossível de justificar ou (des)provar essa premissa. Se você (como um cérebro em uma cuba) pensa – isso significa que você existe?

 

Quanto do seu corpo que você pode perder e ainda ser você mesmo? Você é a mesma pessoa quando você precisa ter sua perna amputada? A maioria vai concordar que você é. Se você tiver todos os quatro membros amputados, não é ainda o mesmo ser humano? Sem dúvida você é. O que você tem que perder para deixar de ser quem você é?

 

Será que o fato de que o cérebro é mantido vivo no laboratório significa que ele tem qualquer consciência ou é justificado se referir a ele como a mesma pessoa da qual ele foi removido? E sobre doadores de órgãos? Se você precisa de um transplante e, digamos, um fígado, é introduzido ao seu corpo, nenhum médico irá dizer que uma outra pessoa está vivendo em você. Por quê? Um fígado não está consciente, ele não é uma pessoa. Por que tantos filósofos atribuem consciência ou o “eu” a este órgão particular – o cérebro?

 

Isso traz à tona o problema de mente e corpo que está no coração da filosofia da mente. Qual é a relação entre mente e corpo? São interdependentes? Há escondido um pressuposto monista no argumento do cérebro numa cuba do Hilary Putnam, ou seja: nessa hipótese mente e corpo são a mesma coisa. Assume-se que a consciência é material e pode ser explicada em termos de transmissão neuroquímica. Se partirmos da perspectiva dualista, que afirma que nem tudo é material e a mente de certa forma está separada do corpo, então a teoria do cérebro numa cuba não prova nada, uma vez que limita a consciência apenas a um órgão.

 

E aí: A consciência pode existir fora o corpo? O que você acha?

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