As 3 regras da Moral Provisória de Descartes

Descartes e as regras da moral provisória
René Descartes – ele também acordava 12hs

Descartes sabia que os sentidos podem nos enganar e que podemos errar ao raciocinar a partir disso. Ele se via tão sujeito à erros quanto qualquer pessoa, então ele queria rejeitar como falso tudo que pudesse ter a menor sombra de dúvida.

Nas meditações ele coloca a possibilidade de existência de um gênio maligno que poderia fazer com que ele sempre fosse enganado.  Quem lembra de Matrix vai notar a semelhança. No filme a mente das pessoas vive na Matrix, que é um mundo simulado por computador (igual o nosso mundo real), enquanto o corpo delas está num coma induzido. Algo parecido com a ideia do “cérebro numa cuba”, de um filósofo americano chamado Hilary Putnam, que diz que você pode ser apenas um cérebro ligado num computador que projeta sua realidade e a ilusão de uma experiência sensorial. Também dá para lembrar da Alegoria da Caverna do Platão, onde a galera está presa olhando para as sombras na parede e pra eles aquilo ali é toda a realidade, quando a verdade está fora da caverna.

Descartes também achava que poderia estar sonhando, e que muitas vezes é difícil distinguir o sonho da realidade. Então, duvidando de tudo, o francês antissocial foi buscar a verdade. E no livro Discurso do Método ele descreve como é possível, por meio da dúvida persistente e obsessiva, destruir toda nossa crença na estrutura do mundo em que vivemos¹. Nesse meio tempo, onde ele iria zerar a própria mente e buscar a verdade, ele precisava continuar vivendo no mundo real, e ficar questionando tudo a todo momento iria atrapalhar bastante, então ele planeja e estabelece as regras da moral provisória na parte 3 do Discurso do Método ou Discurso sobre o método.

O que é a moral provisória

A moral provisória do Descartes é um conjunto de regras de comportamento que ele estabeleceu pra si mesmo durante sua busca pela verdade. Na prática, a moral serve pra ele não hesitar quando for agir, enquanto não tem um juízo claro de qual a maneira certa de conduzir seus atos. Ela serve pra não ficar parado diante dos assuntos práticos da vida.

Então Descartes precisa demolir a casa em que ele está (a verdade atual) pra depois construir uma nova casa (uma nova verdade). Enquanto isso, ele precisa alugar outra casa, e nesse período ele vai usar as três regras moral provisória.

As regras da moral provisória

1ª regra

Obedecer às leis e costumes do país, guardando a religião da infância, e agir conforme as opiniões mais moderadas dos homens mais sensatos do meio em que estamos. Evitar os extremos, porque em geral o excesso é ruim, e caso ele esteja errado, ele não se desvia tanto do caminho. Ele exemplifica dizendo que se você vai morar na China, comporte-se como um chinês. Se vai morar na França, comporte-se como um francês.

Colocando isso na historinha da casa… se ele tá morando de aluguel vai respeitar as regras e tentar ser razoável. Vai se adequar ao máximo enquanto estiver ali. Então pra não perturbar os vizinhos ele não vai ouvir Heavy Metal no último volume do som às 3 horas da manhã. Ele vai ouvir Maria Gadu no fone de ouvido. E isso já combina muito com Descartes, que fazia de tudo pra não arrumar treta, evitava falar muita coisa pra não gerar conflito, pra nada atrapalhar a tão amada tranquilidade dele.

2ª regra

Ser firme nas ações e nas opiniões que escolhemos. A analogia agora que ele mesmo deu é que se você estiver perdido no meio de uma floresta, sempre ande em linha reta e no mesmo rumo porque uma hora você chega em algum lugar. Evita andar em círculos ou ficar parado. Não existe o certo, mas existe o mais provável de dar certo.

Colocando na vida prática, quando você não consegue tomar uma decisão com certeza, você escolhe a mais provável e toma como certa. Mesmo que ficar em dúvida entre várias, pegue uma delas e toma como certa, evite arrependimentos e remorsos que possam agitar o espírito. Essas regras mostram um pouco de influência do Estoicismo na filosofia cartesiana. Pros estoicos a inconstância e a irresolução eram contrárias à virtude.

3ª regra

Procurar sempre vencer a si próprio e não contar com a sorte. Mudar os próprios desejos, e não a ordem do mundo. Descartes valoriza o autocontrole racional, e desvaloriza a utopia, o idealismo. Ele acreditava que só nossos pensamentos estavam sob nosso controle. Então é preciso aceitar que nem tudo á alcançável, mas é possível mudar o próprio desejo. Ele propõe o controle das paixões, que atrapalham nossa paz interior com a busca do impossível.

Usando os exemplos dele, da mesma forma que nós não desejamos possuir um país como a China, ter o corpo feito de diamante ou ter asas de pássaro, não devemos desejar estar saudáveis quando estivermos doente ou estar livres se estivermos presos. Ele confessava que era bem difícil colocar tudo sob essa regra, mas que era um bom caminho pra felicidade.

Conclusão

Descartes avaliou as ocupações dos homens e concluiu que a melhor (para ele pelo menos) era trabalhar cultivando a razão, buscando a verdade pelo método que ele descreveu.

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