“O que define quem você é ?”

Existencialismo de Sartre : “Nada te determina ?”

sarahjoncas

Obra de : Sarah Joncas

A Fenomenologia para Sartre

   A maioria dos filósofos que teorizam a respeito do existencialismo possui temas, um conjunto de preocupações comuns que orientam suas ideias e posicionamentos. Os fatos históricos que antecedem o existecialismo são a filosofia de Kierkegaard e a fenomenologia de Husserl, a qual Sartre concebe interesses , pois , Husserl tinha uma grande cobiça em explicitar as coisas em seu mero estado :

(…) tais como as via e as tocava, sem serem ‘infeccionadas’ pela cultura ou pelas interpretações dos outros. Isso era para ele a Filosofia. A Fenomenologia buscava realizar a proeza de ultrapassar as dificuldades encontradas por outras filosofias, como o idealismo e o materialismo, na sua tentativa de explicar totalmente o mundo. (ALMEIDA, Fernando José de. Sartre: é proibido proibir. p. 19)

    A fenomenologia se emerge nos métodos que revisam as verdades, as quais são tomadas cientificamente de uma forma sem abalamento, no lance em que as ciências indagam e encarregam-se do sinônimo humano.Sartre traduz as ideias de Husserl com um empenho pessoal e, servindo-se essencialmente com a teoria da intencionalidade :

A teoria da intencionalidade veio finalmente mostrar qual é a verdadeira relaçãoentre sujeito e objeto, entre consciência e mundo: eles nascem e emergem juntos, estando envolvidos numa relação na qual um termo não pode ser sem o outro, embora permanecendo sempre autônomo do outro.(MORAIVA, Sérgio. Sartre. p. 15)

   Assim, é possível perceber a negação de Sartre à psicologia tradicional, isto é, tornando menor os fatores psíquicos de acordo com uma ação física e alterando os sinais da consciência humana, com ausência de autonomia, e a sua dedicação pela psicologia fenomenológica, a qual levou Sartre a pensar, chegando então, até a ideia de existencialismo.

O “em-si”

   Na concepção de Sartre, o determinismo é ausente em correspondência à realidade humana, isto é, apenas a liberdade é determinante. O ser humano numa opção livre, faz a si próprio, ou seja, não é presente uma natureza humana e isso concerne no pensamento sartreano de que o existencialismo é um humanismo. Sartre elucida que a consciência é sempre consciência de alguma coisa, mas jamais de objetos, pois, nenhum dos objetos contidos no mundo corresponde a própria consciência do homem, isto é :

“O ‘em-si’ corresponde ao mundo das coisas materiais (pedras, plantas, etc.), aquilo que se encontra fora do sujeito, que tem existência em si mesmo, atemporal (…)” (PENHA, João da. O que é Existencialismo. p. 76).

   É possível perceber desse modo, o sinônimo que determina como é o ser “em-si”. Sartre destaca que o homem ao conhecer, nada se completará ao “em-si” , uma vez que a ação de conhecer não é produtora e por meio disso, não deixa de se recordar do “em-si”.

O “para-si”

    O ser “em-si” está acerca do ser do fenômeno e o ser “para-si” corresponde ao ser da consciência, diante disso, o ser “em-si” é oposto ao ser “para-si” , isto é, o ser “em-si” não teve princípio e não é afetado pelo tempo, enquanto o ser “para-si” autocria-se de uma forma contínua no tempo. Sartre explicitou que o homem é criatura e criador de suas obras e que o “para-si” é o alicerde do nada, ou seja, é o homem que estabelece o não ser no mundo e que altera as coisas. O “para-si” pode ser considerado como o mundo da consciência, isto é, algo que possui a existência por si próprio, logo , a consciência seria um ser “para-si”, pois, reflete sobre ela mesma num pensamento acerca de si mesma.
A probidade do “para-si” de alterar as coisas e de presumir o nada, é o que comprova a liberdade do homem. É importante recordar que Sartre leva em conta os processos de análises filosóficas no que concerne aos princípios da fenomenologia, isto é, acerca do pensamento de Husserl, ele não considera a consciência como um vaso contido de figuras e representações de objetos, ou seja, a consciência não está depositada no mundo material, mas, voltada somente para o mundo exterior. A consciência pode ser entendida como o nada que proporciona a probidade de presumir e extrapolar as situações presentes dos acontecimentos imediatos, ou seja, é a imaginação que torna possível a consciência de interpretar as coisas e reformulá-las na medida em que se tornam ausentes fisicamente.Dessa forma, a convicção sartriana de que é o “para-si” que contribui para a existência do mundo, remete que a consciência corresponde ao mundo que estabelece sinônimos, ou seja, com a ausência do “para-si” a realidade se limitaria somente ao “em-si”. Assim, é o nada que estabelece a liberdade.

Temporalidade

   Na concepção de Sartre, as proporções do tempo ; passado, presente e futuro, devem ser entendendias por meio de um resumo primitivo. Passado, presente e futuro são situações sustentadas de resumos primitivos, isto é, o passado não existe, exceto quando tem conectividade com o presente, aí seria considerável convictar que o passado é vivenciado no presente. Desse modo, é importante recordar a explicitação de Sartre :

“O passado é marca do “em-si”. Enquanto o homem é consciênte de si mesmo, no presente, ele vive segundo o modo do “para-si” , contudo, o seu passado tem todas as características do “em-si”.(SARTRE, 1987, p.10).

   Desse modo, o homem vivencia o passado integrado em si e sem insistência de modificá-lo , pois, ele foi e está estruturado de características que não são possíveis de se alterar e nem de variar, o homem apenas não é o mesmo que era no passado. Acerca do futuro, Sartre o analisa semelhantemente ao passado, isto é, o futuro reúne as caracterísiticas ao “para-si” através dos traços do “em-si” , mas, o “para-si” possui negatividade e assim, em nenhum futuro vai adquirir complementos, retornando então, para o possível futuro.

Acerca da Existência de Deus

   Na consideração do homem como responsável por sua existência, Sartre assume ser um existencialista ateu e elucida que é inexistente uma natureza humana , isto é, não existe um Deus que a faça emergir. Dessa forma, o homem torna-se responsável por sua existência, mas, não apenas ao que concerne à sua individualidade, pois, o homem também é responsável pelos outros homens. A respeito disso, Sartre explicita :

“Portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade inteira.”(SARTRE, 1987, p.7)

   A inexistência de Deus no conjunto de princípios existencialistas, transmite a ideia de que tudo é permitido, dessa forma, o ser humano depara-se só e não é possível indagar em Deus nada que o assegure, obtendo respaldo apenas em si mesmo e em relação à própria existência. Sartre esclarece :

“O existencialismo ateu que eu represento, é mais coerente. Afirma que, se Deus existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser existe antes de poder ser definido por qualquer conceito : este ser é o homem.”(SARTRE, 1987, p.6).

   Por conseguinte, o homem depara-se sozinho e sujeitado à liberdade. Acerca da existência de Deus no pensamento sartriano, é possivel notar que não existe um padrão e por, conseguinte, é inexistente a presença de valores que não se está sujeito a obedecer, valores que tornam legalizado o modo de ser incorreto ou correto. O ateísmo existencialista não é entendido e nem levado em consideração por outras doutrinas, isto é, Sartre quer elucidar que é necessário que o homem veja que independente da existência ou inexistência de Deus, esse não é fator principal, ou seja, é preciso que homem entenda que nada irá torná-lo livre dele próprio , tampouco a presença de Deus. Em questão disso, Sartre elucida :

O existencialismo não é tanto um ateísmo no sentido em que se esforçaria por demonstrar que Deus não existe. Ele declara, mais exatamente : mesmo que Deus existisse, nada mudaria, eis nosso ponto de vista. Não que acreditamos que Deus exista, mas pensamos que o problema não é de sua existência , é preciso que o homem se reencontre e se convença de que nada pode salvá-lo dele próprio, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus.(SARTRE, 1987, p.22).

A Questão da Má-Fé

   A Má-Fé corresponde ao comportamente que o homem estabelece contra ele próprio e não ao que concerne aos outros homens. O indivíduo não é verdadeiro com si mesmo, isto é, ele mente para ele próprio com o objetivo de desviar das responsabilidades que estão intrínsecas ao seu ser. Sartre esclarece que a Má-Fé é ,de fato, uma mentira, pois finge a liberdade do empenho.
Ao adotar que o homem tenta se desviar através das desculpas de suas paixões e que forja um determinismo , o homem se torna um indivíduo estruturado de Má-Fé, isto é, ele se depara com uma contínua dissimulação. A Má-Fé não serve para mentir aos outros, mas sim para enganar a si próprio, mas, o homem teria liberdade para reverenciar e estabelercer uma ação de Má-Fé ? A respeito disso, Sartre explica que :
Podemos julgar, antes de mais (e isto não é talvez um juízo de valor, mas sim juízo lógico), que certas escolhas são fundadas no erro e outras na verdade. A má-fé é evidentemente uma mentira, porque dissimula a total liberdade do compromisso. No mesmo plano, direi que há também má-fé, escolho declarar que certos valores existem antes de mim; estou na contradição comigo mesmo, se ao mesmo tempo os quero que se me impõem, se me dizem: ‘e se eu quiser estar de má-fé?, responderei: não há razão alguma para que você o não esteja, mas declaro que você o está e que a atitude de uma estrita coerência é a atitude de boa-fé.(SARTRE, 1973, p. 18).

Liberdade

   A existência é anterior decretando a essência e toda a necessidade em se fixar os limites. A liberdade é antagônica , pois a ela forma-se o princípio de todas as essências, isto é, na concepção de Sartre, a única base do ser é a liberdade. O homem opta por algo que pretende ser , utilizando a sua liberdade, isto é, os valores serão originados através das escolhas por ele optadas. As escolhas não possibilitam ao homem uma fuga, pois no momento em que este opta por algo, as consequências são irreversíveis, podendo ser boas ou ruins. Assim, quando o homem opta por algo, é possível perceber brevemente a sua liberdade. Acerca dessa liberdade, Sartre explicitou que :

“A escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher.”(SARTRE, 1987. p.17).

   No conjunto de princípios existencialitas, a liberdade é definida de um modo totalmente diferente do ponto de vista clássico, isto é, do ponto de vista clássico a liberdade é vista como um livre abítrio . Na concepção de Sartre, a liberdade se difere por possuir escolhas que não podem ser separadas da responsabilidade, ou seja, a liberdade no existencialismo possui a probidade do indivíduo seguir o que será de sua vida., tendo total consciência da responsabilidade de seus atos. Sartre compreende que o homem ao ter vontade sobre a liberdade , a concebe para ele próprio e para a humanidade, tendo assim, um caráter universal, acerca disso Sartre elucida :

Sem dúvida, a liberdade enquanto definição do homem, não depende de outrem,mas, logo que existe um engajamento, sou forçado a querer, simultaneamente, a minha liberdade e a dos outros, não posso ter o objetivo a minha liberdade, a não ser que meu objetivo seja também a liberdade dos outros. (SARTRE, 1987, p. 199).

   O homem ao desejar a liberdade, posteriomente descobre que ela é dependente da liberdade dos outros e , que a liberdade dos outros, consequentemente, depende da sua própria liberdade. No entanto, essa liberdade propriamente dita, carrega em sua bagagem a angústia, isto é, não é possível separar a liberdade de responsabilidade, posteriormente, o homem ao carregar o fardo da responsabilidade, se depara com a angústia, a qual é existencial surgindo na consciência e fazendo com que o ser humano reflita a respeito de suas escolhas, as quais irão definir o que ele é e o que se tornará. Assim, a angústia surge através da consciência que o homem tem de sua própria liberdade e do receio de fazer um uso equivocado dessa liberdade.

A Existência precede a Essência

   Na concepção de Sartre, a questão da existência preceder a essência , surge de uma forma única, isto é, apenas se o homem é livre, em contraposição aos outros seres que já são determinados com antecedência. Apenas o homem existe, no que concerne em relação as coisas, elas apenas são, ou seja, na concepção sartriana existe uma valorização do indivíduo que faz a si e acerca disso, Sartre afirma que :

“O homem nada mais é do que aquilo que ele faz a si mesmo : é esse o primeiro princípio do existencialismo.” (SARTRE, 1987, p.6)

   O homem escolhe o seu rumo, decidindo ser bom ou ruim, isto é, um herói ou um covarde, ele é o único responsável pelas práticas de suas ações, a respeito dessa questão, Sartre explica que :

“O existencialismo afirma que o covarde se faz covarde que o herói se faz herói ; existe sempre, para o covarde, uma possibilidade de não mais ser covarde , e , para o herói, de deixar de o ser.”(SARTRE, 1987, p.14)

   Na visão sartriana a respeito do existencialismo, é importante ressaltar novamente, que a natureza humana é inexistente e o homem é o único responsável por seu ser, pois, de acordo com Sartre, a existência precede a essência, no que concerne a isso, o filósofo esclarece :

“Com efeito, se a existência precede a essência, nada jamais poderá ser explicado por referência a uma naturza humana dada e definitiva, ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade.”(SARTRE, 1987, p.9)

Sartre corrobora que o existencialismo é um humanismo, isto é : “Humanismo porque recordamos ao homem que não existe outro legislador a não ser ele próprio.”(SARTRE, 1987, p.21)”

   Enfim, o existencialismo é um expedito filosófico e literário que ressalta a liberdade do ser humano, a sua obrigação de responder pelas suas ações e sua subjetividade, isto é, o existencialismo define o homem como o único ser responsável por seus atos, o homem nasce, existe no mundo, se desvela e posteriormente se define.

autor : Pedro H. S. Batalhione

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2ª ed., São Paulo: Editora Mestre Jou,
1982.
ALMEIDA, Fernando José de. Sartre: é proibido proibir. São Paulo: Editora FTD, 1988.
MORAIVA, Sérgio. Sartre. Coleção Biblioteca Básica de Filosofia. Lisboa: Edições 70,
1985.
PENHA, João da. O que é Existencialismo. 10ª ed. (Coleção Primeiros Passos – vol. 61).
São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
SARTRE, Jean-Paul. Existencialismo é um Humanismo. (Coleção Os Pensadores – vol. XLV). São Paulo: Editora Abril Cultural, 1973.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. seleção de textos José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte , Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo : Nova Cultural, 1987.

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