O Sintoma na Psicanálise de Lacan

Lacan definiu o sintoma de várias maneiras: como uma metáfora, como “aquilo que vem do real”, como “aquilo que não funciona”, e no final de seu ensino, como um fato estrutural, cuja necessidade deve ser questionada. Em 1953 (2002a) Lacan enfatizou que o sintoma analítico – um sintoma neurótico, perverso, ou até mesmo psicótico; um sonho; um lapso; e assim por diante – era sustentado por uma estrutura linguística, por significantes, e pelas letras que lhes servem de elemento material.

Em contraste com sintomas médicos, cujo significado é determinado em relação a um referencial, o sintoma neurótico é discurso bloqueado querendo ser ouvido e decifrado. Lacan viu o mecanismo de metáfora em funcionamento no sintoma: quando um significante de indução do trauma é substituído por um elemento da cadeia significante atual, corrige o sintoma e produz o seu significado (2002b, p 158.). Mas interpretar seu significado não é suficiente. Interpretação funciona apenas focando a articulação dos significantes ligados ao sintoma; significantes em si próprios não têm significado (1995, p. 270). Ainda assim, esses significantes deve ser dirigidos a um analista. Já que o sintoma é uma fonte de gozo auto-suficiente, o sujeito deve saber que por trás do sintoma há uma verdade desconhecida e uma causa relacionada.

A partir de 1974, com o nó borromeano com três anéis, Lacan visa a relação do sintoma com o real (R), o simbólico (S), e o imaginário (I). O sintoma tornou-se “o que vem do real” (1975, p. 185). É marginalmente imaginário, ao mesmo tempo que se desenrola no simbólico.

O sintoma, o que está errado, usa discurso para procurar significado. Se nós respondemos a ele neste registo, podemos causar desenvolvendo no imaginário. Intervenção simbólica equivocada pode desfazer as certezas do sintoma e fazê-lo recuar.

Lacan faz a função do sintoma específico, começando com um nó com quatro anéis. Freud mostrou que a formação de sintomas é determinada pela realidade psíquica, que é organizada pelo complexo de Édipo. Lacan chamou esta realidade “religiosa”, pois baseia-se na crença de que o pai castra, embora as leis da linguagem exijam uma renúncia à realidade e uma suposição do falo. Assim, o sintoma parece manter uma ligação com o pai, que sustenta a identificação e gozo sexual. Neste nó,  o sintoma liga os nós do real, simbólico, e imaginário.

Um caso não resolvido é o de um sujeito não sustentado por seu sintoma. Este caso é representado por um nó borromeano significativo com três anéis.

Lacan também perguntou o que aconteceria se houvesse um erro na amarração dos três anéis. Tal erro seria fixado de uma forma não-borromeana por um quarto anel, o do sinthoma. No seu estudo sobre James Joyce (2001), usou Joyce como seu exemplo de um tal processo.

Para Lacan, o sintoma é a maneira fixa na qual os sujeitos desfrutam de seu inconsciente. Assim, o caminho que leva ànormalização edipiana, mesmo que seja neurótica, é também claramente marcado. O tratamento visa não tal normalização, mas sim em aprender “o que fazer com o sintoma” em vez de apreciá-lo.

Bibliografia

Lacan, Jacques. (1974-1975). Le séminaire. Book 22: R.S.I. Ornicar?, 2-5.

Lacan, Jacques. (1975). La troisième, intervention de J. Lacan le 31 octobre 1974. Lettres de l ‘École Freudienne16, 178-203.

Lacan, Jacques. (1975-1976). Le séminaire. Book 23: Le sinthome. Ornicar?, 6-11.

Lacan, Jacques. (1995). The position of the unconscious (Bruce Fink, Trans.). In Richard Feldstein, Bruce Fink, and Maire Jaanus (Eds.), Reading “Seminar XI”: Lacan ‘s four fundamental concepts of psychoanalysis. New York: W. W. Norton. (Original work published 1960)

Lacan, Jacques. (2001). Joyce: Le symptôme. In his Autres écrits. Paris: Seuil.

Lacan, Jacques. (2002a). The function and field of speech and language in psychoanalysis. In hisÉcrits: A selection (Bruce Fink, Trans.). New York: W. W. Norton. (Original work published 1953)

Lacan, Jacques. (2002b). The instance of the letter in the unconscious, or reason since Freud. In hisÉcrits: A selection (Bruce Fink, Trans.). New York: W. W. Norton. (Original work published 1957)

Fonte:

“Symptom/Sinthome.” International Dictionary of Psychoanalysis. Acessado em 26 de Outubro de 2017 de Encyclopedia.com: http://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/symptomsinthome

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *