Jacques Lacan usou a palavra francesa forclusion (foraclusão ou forclusão) para traduzir o termo alemão Verwerfung, anteriormente representado em francês como rejet (repúdio). Sigmund Freud tinha introduzido o termo foraclusão, juntamente com negação (Verneinung) e repressão (Verdrängung) como um mecanismo de defesa.
Foraclusão é uma defesa primordial, porque não age em um significante que já está inscrito dentro da cadeia de significantes, mas sim, rejeita a própria inscrição. A foraclusão é, assim, a antítese de Bejahung (afirmação).
Foraclusão do Nome-do-pai
Esta operação de repúdio afeta especialmente significantes altamente significativos, como o Nome-do-Pai, o fiador da castração. Lacan via a foraclusão do Nome-do-pai como o mecanismo característico da psicose. Em “Uma Questão Preliminar a Todo Tratamento Possível Da Psicose“, ele escreveu: “Eu vou, portanto, tomar Verwerfung como foraclusão do significante no ponto em que o Nome-do-Pai é convocado – e veremos como – um buraco puro e simples pode responder ao Outro; devido à falta do efeito metafórico, este buraco vai dar origem a um buraco correspondente no lugar da significação fálica”(p. 191). Parafraseando, digamos que, quando o sujeito apela ao Pai para garantir a lei que situa tanto o sujeito e seu desejo no Outro, ele encontra unicamente um eco em um vazio que desencadeia uma cascata de metáforas delirantes. Estas prontamente se organizam em torno da presença fantasmática de uma autoridade que é suspeita de ter intenções intrusivas ou criminais; isso é como a foraclusão do Nome-do-Pai faz presente no real uma autoridade malévola desejando cometer abuso sexual ou homicídio.
Por que a foraclusão acontece?
Uma explicação é que a criança é exposta a uma mãe que se recusou a reconhecer a lei, seja por não situá-la de acordo com seus desejos, ou porque obrigá-la a separar-se de seu produto. Também pode acontecer que o verdadeiro pai revela-se incapaz de inscrever-se em uma linhagem simbólica e, consequentemente, inválida (pai cf. pai de Schreber em ““Notas Psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia
[Dementia Paranoides]”, 1911c). Mas não raramente, pula uma geração, e o filho de um casal psicótico pode validar o Nome-do-Pai por conta própria, com base no que ele encontra na linguagem e verifica com a ajuda de figuras paternas substitutas.
Pode ser que formas específicas de foraclusão sejam responsáveis pela divisão das psicoses em paranoia e esquizofrenia?
Nada aponta para essa conclusão, mesmo que a paranoia seja uma tentativa de cura através da designação de um real, embora persecutório pai. Esta designação transforma o significante em um sinal de certa verdade.
Muitos têm perguntado se o tratamento psicanalítico pode reparar uma foraclusão. Histórias de casos não oferecem quaisquer respostas claras.
Recordemos que Schreber, por sua vez, encontrou uma espécie de estabilizador, aceitando emasculação como sendo “consonante com a Ordem das Coisas” (p 48.); tornando-se uma mulher, ele poderia atrair a presença divina que o salvaguardada. Igualmente interessantes são estudos de casos limítrofes. Parece que o último resultado é mais provável uma negação ou anulação do Nome-do-Pai, com uma falha previsível da lei, mas sem produzir os remodelamentos do real (a sua fragmentação ou o seu investimento por uma figura persecutória) que são característicos de encerramento.
Por Charles Melman
Bibliografia
Freud, Sigmund. (1894a) Obsessions and phobias: Their psychical mechanism and their aetiology. SE, 3, 69-82.
Freud, Sigmund. (1911c) Psycho-analytic notes on an autobiographical account of a case of paranoia (dementia paranoides). SE, 12, 1-82.
Lacan, Jacques. (2004). On a question prior to any possible treatment of psychosis.Écrits: A Selection (Bruce Fink, Trans.). New York: W. W. Norton. (Original work published 1955-56)
Fonte:
“Foreclosure.” International Dictionary of Psychoanalysis. Recuperado em 03 de Outubro de 2017 de Encyclopedia.com: http://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/foreclosure
