Paul Baltes: Biografia e Teoria Life-Span

Biografia de Paul Baltes

Paul B. Baltes nasceu em 18 de junho de 1939 e morreu em 07 de novembro de 2006. Baltes foi um psicólogo alemão cujo amplo trabalho científico teve como destaque  o estabelecimento da perspectiva life-span do desenvolvimento humano. Ele também era um teórico no campo da psicologia do envelhecimento. Paul Baltes foi considerado um dos psicólogos do desenvolvimento mais influentes pela American Psychologist.

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Paul B. Baltes nasceu em Saarlouis, Alemanha. Ele é bem conhecido pelo desenvolvimento da teoria de seleção, otimização e compensação (teoria SOC), e pela Teoria life-span e a mudança de paradigma do desenvolvimento ao longo da vida.

Baltes recebeu seu doutorado pela Universidade de Saarbrücken (Saarland, Alemanha) em 1967. Depois, passou por diversas instituições americanas como professor de psicologia e desenvolvimento humano, antes de retornar para a Alemanha em 1980.

Baltes foi autor e editor de 18 livros e mais de 250 artigos científicos. Por seu trabalho, ele foi homenageado com inúmeros prêmios, incluindo doutorados honorários e eleição como membro estrangeiro da Academia Americana de Artes e Ciências e da Real Academia Sueca de Ciências.

Ele morreu em sua casa em Berlim de câncer no pâncreas em 2006.

A perspectiva Life-Span 

A perspectiva life-span na Psicologia do desenvolvimento pode ser definida como a exploração das alterações biológicas, cognitivas e psicossociais que ocorrem durante todo o curso da vida. Ela tem sido apresentada como uma perspectiva teórica, propondo vários princípios fundamentais, teóricos e metodológicos sobre a natureza do desenvolvimento humano. Uma tentativa por pesquisadores foi feita para examinar se a investigação sobre a natureza do desenvolvimento sugere uma visão de mundo metateórica específica. Várias crenças, tomadas em conjunto, formam a “família de perspectivas” que contribuem para este ponto de vista particular. Baltes argumenta que há sete características-chave que afetam o desenvolvimento humano ao longo de vida, a saber:

(1) o desenvolvimento ocorre em toda a vida,

(2) multidirecionalidade e multidimensionalidade,

(3) o desenvolvimento como crescimento e declínio,

(4) o papel que a plasticidade desempenha no desenvolvimento,

(5) a influência da condição sociocultural sobre o desenvolvimento

(6) as influências históricas e não normativas sobre o desenvolvimento, e

(7) o caráter multidisciplinar do desenvolvimento humano.

1 – Desenvolvimento do ciclo de vida 

Desenvolvimento do ciclo de vida envolve a ideia de que o desenvolvimento não é concluído na idade adulta; abrange todo o ciclo da vida, desde a concepção até a morte.

O estudo do desenvolvimento tradicionalmente centrava quase exclusivamente sobre as mudanças que ocorrem desde a concepção até a adolescência e o declínio gradual na velhice.  Acreditava-se que as cinco ou seis décadas após a adolescência produziam pouca ou nenhuma mudança do desenvolvimento.

A visão atual reflete a possibilidade de que alterações específicas no desenvolvimento podem ocorrer mais tarde na vida, sem terem sido estabelecidas no momento do nascimento. Os eventos iniciais da infância podem ser transformados por eventos posteriores na vida de alguém. Esta crença enfatiza claramente que todas as fases do ciclo de vida contribuem igualmente na regulação da natureza do desenvolvimento humano; nenhum período detém a supremacia sobre o outro. Os indivíduos são confrontados com muitos desafios, oportunidades e situações ao longo da vida que dão direção, força e substância para o seu desenvolvimento.

2 – Multidimensionalidade e Multidirecionalidade

Baltes afirma que multidimensionalidade e multidirecionalidade são características do desenvolvimento humano. Por multidimensionalidade, Baltes está se referindo ao fato de que uma interação complexa de fatores, tanto endógenos quanto exógenos, influencia o desenvolvimento ao longo da vida. Como resultado, certos fatores podem ter um efeito mais potente sobre um determinado domínio do que outro fator. Independentemente, Baltes salienta que um único critério não determina a formação de um domínio.

Na segunda parte da proposição referindo-se a multidirecionalidade, Baltes afirma que o desenvolvimento de um domínio específico não ocorre de uma maneira estritamente linear que aumenta no sentido funcional a eficácia de uma modalidade particular. Em vez disso o desenvolvimento pode ser caracterizado como tendo a capacidade tanto para o aumento quanto para diminuição da eficácia durante o curso da vida de um indivíduo. Como resultado, o desenvolvimento de vários domínios é multidirecional por natureza.

O processo de desenvolvimento que ocorre entre a infância e adolescência conhecido como puberdade ilustra o princípio da multidimensionalidade e multidirecionalidade de Baltes. A puberdade é descrita como um período de “rápidas mudanças corporais morfológicas; incluindo o crescimento físico e alterações hormonais, bem como uma miríade de mudanças contextuais psicológicas e sociais”. Os tipos de alterações morfológicas associadas com a puberdade incluem o desenvolvimento de características sexuais primárias e secundárias, alterações na altura e peso, as flutuações nos níveis hormonais, juntamente com várias outras alterações psicológicas durante a adolescência envolvendo uma ampla gama de experiências que indivíduos encontram durante este período de mudanças dinâmicas; incluindo o desenvolvimento de faculdades cognitivas avançadas, novas emoções, juntamente com outras alterações psicossociais.

A autorregulação é um domínio da puberdade que sofre profundas mudanças multidirecionais durante o período da adolescência. Durante a infância, as pessoas têm dificuldade de regular de forma eficaz as suas ações e comportamentos impulsivos.  Os estudiosos notaram que essa falta de uma regulação eficaz, muitas vezes resulta em crianças envolvidas em comportamentos sem considerar plenamente as consequências de suas ações. Ao longo da puberdade, as mudanças neuronais tentam lidar com esse comportamento não regulamentado, aumentando a capacidade de regular as emoções e impulsos. Inversamente, a capacidade para adolescentes se envolverem em atividade espontânea e criatividade, ambos os domínios comumente associados com o comportamento de impulso, diminui ao longo do período da adolescência em resposta a mudanças na cognição. No final, as mudanças neuronais no sistema límbico e córtex pré-frontal, que estão associados com a puberdade levam ao desenvolvimento da autorregulação, e a capacidade de considerar as consequências de suas ações.

3 – Desenvolvimento com ganhos e perdas

Baltes argumenta que o desenvolvimento ao longo da vida é influenciado pela “expressão conjunta das características de crescimento (ganho) e declínio (prejuízo).” O resultado dessa relação ganho / perda é que o desenvolvimento de um indivíduo ocorre no âmbito desta relação dinâmica. Esta relação entre ganhos e perdas de desenvolvimento ocorre em uma direção para otimizar seletivamente capacidades particulares que exigem o sacrifício de outras funções, um processo conhecido como otimização seletiva com compensação. De acordo com o processo de otimização seletiva, os indivíduos ao longo do tempo de vida priorizam funções particulares acima das outras, reduzindo a capacidade de adaptação dos elementos para a especialização e melhor eficácia de outras modalidades.

A aquisição da autorregulação eficaz em adolescentes ilustra o paradigma ganho / perda apresentado por Baltes. Como adolescentes ganham a capacidade de regular eficazmente suas ações, eles podem ser forçados a sacrificar recursos para otimizar seletivamente suas reações. Por exemplo, os indivíduos podem sacrificar sua capacidade de ser espontâneos e criativos, se eles são constantemente obrigados a tomar decisões ponderadas e regular suas emoções.

4 – Plasticidade

Plasticidade denota variabilidade intrapessoal e concentra-se fortemente sobre as potencialidades e limites da natureza do desenvolvimento humano. A noção de plasticidade enfatiza que existem muitos resultados de desenvolvimento possíveis e que a natureza do desenvolvimento humano é muito mais aberta e pluralista do que fica inicialmente implícito por visões tradicionais; não há uma via única que deve ser tomada no desenvolvimento de um indivíduo ao longo do ciclo de vida.

A plasticidade é imperativa para a investigação atual porque o potencial para a intervenção é derivado da noção de plasticidade no desenvolvimento. Desenvolvimento ou comportamento indesejado poderia potencialmente ser prevenido ou melhorado.

5 – Enraizamento histórico 

A perspectiva da imersão histórica é composta por duas ideias principais: a ideia de que existe uma relação entre o desenvolvimento de um indivíduo e o ambiente sociocultural em torno dele, e também como essa configuração evolui ao longo do tempo.

Isto foi exemplificado em numerosos estudos que mostram que o nível e a direção da mudança no desenvolvimento da personalidade do adolescente foram influenciados tão fortemente pelas configurações socioculturais na época (neste caso, a Guerra do Vietnã) como fatores relacionados à idade (Nesselroade e Baltes, 1974).

Da mesma forma, Edler (1974, 1982) mostrou que a Grande Depressão foi um cenário que afetou significativamente o desenvolvimento de adolescentes e suas correspondentes personalidades adultas, mostrando um desenvolvimento da personalidade comum semelhante em todos os grupos etários.  A teoria de Baltes também afirma que as configurações históricas socioculturais tiveram um efeito sobre o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo. As áreas de influência que Baltes considerava mais importantes para o desenvolvimento da inteligência eram saúde, educação e trabalho. As duas primeiras áreas, saúde e educação, afetam significativamente o desenvolvimento saudável do adolescente, que sendo educado de forma eficaz, irá desenvolver um maior nível de inteligência.

6 – Contextualismo como paradigma

Contextualismo como um paradigma é a ideia de Baltes ‘que três sistemas de influência biológica e ambiental trabalham em conjunto para influenciar o desenvolvimento: influências normativas reguladas pela idade, influências normativas reguladas pela história, e influências não normativas. Baltes escreveu que essas três influências operam ao longo da vida, os seus efeitos se acumulam com o tempo, e, como um pacote dinâmico, elas são responsáveis pela forma como a vida se desenvolve.

Sobre o desenvolvimento do adolescente, as influências normativas reguladas pela idade ajudariam a explicar as semelhanças dentro de um grupo, as influências normativas reguladas pela história ajudariam a explicar as diferenças entre os grupos, e as influências não normativas explicariam as idiossincrasias de cada adolescente no desenvolvimento individual.

7 – O caráter multidisciplinar do desenvolvimento humano

É sugerido explicitamente por pesquisadores que a combinação de disciplinas é necessária para definir as origens e direcionalidade desta teoria. Esta combinação de disciplinas também seria capaz de delinear a origem e os mecanismos associados com as influências no desenvolvimento humano que uma disciplina apenas, como a psicologia, teria dificuldade. O campo da psicologia só seria capaz de fornecer uma representação parcial do desenvolvimento humano desde a concepção até a morte.

O conceito de uma perspectiva multidisciplinar auxilia no sentido de ajudar a compreender as complexidades do desenvolvimento ao longo da vida, bem como apreciar o quão incompleto o estudo do desenvolvimento comportamental realmente é. Muitas disciplinas são capazes de contribuir com conceitos importantes que integram o conhecimento, o que pode em última análise, resultar na formação de uma concepção nova e enriquecida de desenvolvimento da vida toda.


Referências:

NERI, Anita Liberalesso. O legado de Paul B. Baltes à Psicologia do Desenvolvimento e do Envelhecimento. Temas psicol.,  Ribeirão Preto ,  v. 14, n. 1, p. 17-34, jun.  2006 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2006000100005&lng=pt&nrm=iso>. acesso em  28  set.  2016.

SCORALICK-LEMPKE, Natália Nunes; BARBOSA, Altemir José Gonçalves. Educação e envelhecimento: contribuições da perspectiva Life-Span. Estud. psicol. (Campinas),  Campinas ,  v. 29, supl. 1, p. 647-655,  Dec.  2012 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2012000500001&lng=en&nrm=iso>. acesso em  28  de Set.  2016.

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