O que é dissonância cognitiva? Teoria e Exemplos

Dissonância cognitiva

As pessoas tendem a procurar uma coerência em suas crenças e percepções. Então o que acontece quando uma das nossas crenças entra em conflito com outra crença anteriormente detida? O termo dissonância cognitiva é usado para descrever as sensações de desconforto que resultam de duas crenças contraditórias. Quando há uma discrepância entre as crenças e comportamentos, algo tem de mudar, a fim de eliminar ou reduzir a dissonância.

Dissonancia cognitiva
Como exatamente funciona a dissonância cognitiva e como ele influencia a forma como pensamos e nos comportamos?

O que é dissonância cognitiva?

O psicólogo Leon Festinger propôs uma teoria da dissonância cognitiva centrada em como as pessoas tentam alcançar consistência interna. Ele sugeriu que as pessoas têm uma necessidade interior para garantir que as suas crenças e comportamentos são consistentes. Crenças inconsistentes ou conflitantes levam a desarmonia, que as pessoas se esforçam para evitar.

Em seu livro A Teoria da Dissonância Cognitiva (A Theory of Cognitive Dissonance), Festinger explicou:

“A dissonância cognitiva pode ser vista como uma condição antecedente que leva a atividade orientada para a redução de dissonância assim como a fome leva para a atividade orientada para a redução da fome. “

A quantidade de experiência de dissonância cognitiva nas pessoas pode depender de alguns fatores diferentes, incluindo o quão valorizamos uma crença particular e o grau em que as nossas crenças são inconsistentes.

A força total da dissonância pode ser influenciada por vários factores. Cognições que são mais pessoais, tais como crenças sobre o self (si mesmo), tendem a resultar em maior dissonância. A importância das cognições também desempenha um papel. Coisas que envolvem altas valorizações normalmente resultam em dissonância mais forte.

A relação entre os pensamentos dissonantes e pensamentos consoantes também pode desempenhar um papel no quão forte os sentimentos de dissonância são. Quanto maior for a força da dissonância, mais pressão existe para aliviar as sensações de desconforto.

Dissonância cognitiva pode muitas vezes ter uma forte influência sobre os nossos comportamentos e ações. Vamos começar por olhar para alguns exemplos de como isso funciona.

Exemplos de dissonância cognitiva

Dissonância cognitiva pode ocorrer em muitas áreas da vida, mas é particularmente evidente em situações onde o comportamento de um indivíduo entra em conflito com as crenças que são essenciais para a sua autoidentidade.

Por exemplo, considere uma situação em que um homem que coloca um valor em ser ambientalmente responsável acaba de comprar um carro novo que ele descobre mais tarde que gasta muita gasolina.

O conflito:

  • É importante para o homem cuidar do meio ambiente.
  • Ele está dirigindo um carro que não é ambientalmente amigável.

A fim de reduzir essa dissonância entre crença e comportamento, ele tem algumas opções.

Ele pode vender o carro e comprar um outro que ‘faz mais por litro (de gasolina)’, ou ele pode reduzir sua ênfase na responsabilidade ambiental. No caso da segunda opção, a sua dissonância poderia ainda ser minimizada por se envolver em ações que reduzam o impacto da condução de um veículo com alto consumo de gasolina, tal como utilizar o transporte público com mais frequência ou andar de bicicleta para o trabalho.

Um exemplo mais comum de dissonância cognitiva ocorre nas decisões de compra que fazemos regularmente. A maioria das pessoas quer manter a crença de que fazem boas escolhas. Quando um produto ou item que compramos é ruim, ele entra em conflito com a nossa crença já existente sobre as nossas capacidades de tomada de decisão.

Mais exemplos de dissonância cogniiva

Em seu livro de 1957 A Teoria da Dissonância Cognitiva, Festinger oferece um exemplo de como um indivíduo pode lidar com a dissonância relacionada a um comportamento de saúde. Indivíduos que fumam podem continuar a fazê-lo, mesmo que eles saibam que é ruim para a sua saúde. Por que alguém iria continuar a se envolver em comportamentos que sabem que não são saudáveis? De acordo com Festinger, uma pessoa pode decidir que valoriza mais fumar do que a própria saúde, considerando que o comportamento “vale a pena” em termos de riscos e recompensas.

Outra forma de lidar com esta dissonância cognitiva é minimizar as desvantagens potenciais. O fumante pode convencer-se de que os efeitos negativos para a saúde têm sido exagerados. Ele também pode aliviar suas preocupações com a saúde, dizendo a si mesmo que ele não pode evitar todos os riscos possíveis. Finalmente, Festinger sugeriu que o fumante pode tentar convencer-se de que, se ele parar de fumar, então ele vai ganhar peso, que também apresenta riscos para a saúde. Ao utilizar tais explicações, o fumante é capaz de reduzir a dissonância e continuar o comportamento.

Como reduzir a dissonância cognitiva

De acordo com a teoria da dissonância cognitiva de Festinger, as pessoas tentam procurar uma coerência em seus pensamentos, crenças e opiniões. Então, quando há conflitos entre cognições, as pessoas vão tomar medidas para reduzir a dissonância e os sentimentos de desconforto. Essas são 3 diferentes estratégias-chave para reduzir ou minimizar a dissonância cognitiva:

  1. Concentre-se em crenças mais favoráveis que superam a crença ou comportamento dissonante.
    Por exemplo, pessoas que aprendem que as emissões de gases com efeito de provocar o aquecimento global podem experimentar sentimentos de dissonância se conduzirem um veículo com alto consumo de gasolina. A fim de reduzir essa dissonância, elas podem procurar novas informações que contestam a conexão entre gases de efeito estufa e aquecimento global. Esta nova informação pode servir para reduzir o desconforto e dissonância que a pessoa experimenta.
  2. Reduzir a importância da crença em conflito.
    Por exemplo, um homem que se preocupa com sua saúde pode ser perturbado ao saber que ficar sentado por longos períodos de tempo durante o dia está ligado a uma vida útil encurtada. Uma vez que ele tem que trabalhar o dia todo em um escritório e passa grande parte do tempo sentado, é difícil mudar o seu comportamento, a fim de reduzir seus sentimentos de dissonância. A fim de lidar com os sentimentos de desconforto, ele poderia, em vez encontrar alguma maneira de modificar o seu comportamento, passar a acreditar que seus outros comportamentos saudáveis compensam o seu estilo de vida sedentário.
  3. Mudar a crença conflitante de modo que seja consistente com outras crenças e comportamentos.
    Alterar a cognição conflitante é uma das maneiras mais eficazes de lidar com a dissonância cognitiva, mas é também uma dos mais difíceis. Particularmente no caso de valores e crenças mais profundas, a mudança pode ser extremamente difícil.

Por que a dissonância cognitiva é importante?

Dissonância cognitiva desempenha um papel em muitos julgamentos de valor, decisões e avaliações. Tornar-se consciente de como as crenças conflitantes impactam o processo de tomada de decisão é uma ótima maneira de melhorar a sua capacidade de fazer escolhas mais rápidas e precisas.

Observações

  1. A existência de dissonância, sendo psicologicamente desconfortável, vai motivar a pessoa a tentar reduzir a dissonância e alcançar consonância
  2. Quando a dissonância está presente, além de tentar reduzi-la, a pessoa vai evitar ativamente situações e informações que provavelmente aumentariam a dissonância. ”
    (Festinger, 1957)

Referências:

Cooper, J. (2007). Cognitive dissonance: 50 years of a classic theory. London: Sage Publications.

Festinger, L. (1957) A theory of cognitive dissonance. Stanford, CA: Stanford University Press.

Por Kendra Cherry

19 respostas a “O que é dissonância cognitiva? Teoria e Exemplos”

  1. Exemplos de dissonância cognitiva:

    1) A Globo, nos jornais, defenestra todos os pedófilos; já nas novelas, coloca GAROTAS COM CARA E COM CORPO DE ADOLESCENTE em cenas de sexo praticamente explícito, ESTIMULANDO A PEDOFILIA.

    2) Pessoas, como Jandiras Feghalis e Jeans Willis da vida, se dizerem comunistas e ganharem R$ 33 mil por mês (fora verbas adicionais que passam dos 100 mil), morarem em mansões e DESFRUTAREM DE TODO O CONFORTO QUE O CAPITALISMO PROMOVE, PRINCIPALMENTE PARA OS MAIS ABASTADOS!!!!!!

    3) O Lula dizer que é amigo dos pobres, E COMANDAR UM ESQUEMA BILIONÁRIO DE DESVIO DE DINHEIRO PÚBLICO que daria para construir creches, escolas, hospitais e universidades, principalmente para os mais pobres.

    4) Pessoas se dizerem socialistas/comunistas e terem celulares de última geração, usarem o Facebook todos os dias e comerem no Mc’Donald.

    5) Feministas, que pregam a igualdade, defenderem países árabes, ONDE A MULHER NÃO PODE NEM COMER NA MESMA MESA DOS HOMENS.

    Arrisco-me a dizer que o Brasil é a terra da dissonância cognitiva!

    1. Você está errado, os exemplos que você deu são de contradições. A dissonancia está no ser, é interna. A dissonancia não está na mídia ser contra pedofilia e promove-la, está no humano que aceita ambos os lados e entra em dissonancia por exercer duas crenças contraditórias.

      1. O Lula repudia a corrupção, mas se envolve num caso de lavagem de dinheiro com empresários, banqueiros e lobbistas. Daí quando perguntado sobre o tema, ele afirma que nunca recebeu própina. Apesar de ter ganho um tríplex, que segundo ele, foi um presente e não fruto do esquema. O ex presidente afirma até hoje que nunca foi participante de círculos corruptíveis. Mas sim, de rodas de amigo oculto no natal com seus brothers da alta sociedade.

        Nesse caso, há ou não dissonância?

        Ps: não sou psicólogo ou graduando, então desculpe-me desde já.

        1. A questão é: ser contra a corrupção e ao mesmo tempo estar envolvido com ela levou o Lula a afirmar que o tríplex é um presente, pois assim ele poderia manter sua opinião sobre corrupção e ainda ficar de boa por estar envolvido.

        2. Deduções feitas a partir de versão unilateral. Típico de quem se deixa manipular por um único viés de informação, e não procura saber a visão do contraditório.
          Ou seja, um manipulado.
          Lula não é dono de triplex algum, e vc acredita que é……
          Estamos sob ataque híbrido. Deep State-US ( governo paralelo à Casa Branca ).
          Lula sob ataque: lawfare.

        3. Outro exemplo seria o dos atuais rompantes golpistas de grupos apoiadores a Bolsonaro. Por um lado eles acreditam que seu candidato ganhou a eleição, fato que foi amplamente verificado e descartado. Então começaram a afirmar que as urnas estavam de alguma forma alteradas para favorecer Lula, mesmo que as mesmas urnas tenham funcionado grandemente em favor de Bolsonaro e seus aliados no primeiro turno (lembrando que as pesquisas apontavam vitória de Lula ainda no primeiro turno, o que não ocorreu). E ainda tem a questão de se manifestarem dizendo que a democracia no Brasil foi corrompida, enquanto se aglomeram nas portas dos quartéis pedindo golpe militar. Ainda em relação às urnas, não aceitam que todo o processo eleitoral seja revisto, apenas aceitariam se algumas duzentas e cinquenta mil urnas que deram resultado favorável a Lula se convertessem magicamente em votos para Bolsonaro. Daí minha pergunta: é possível gerar dissonância cognitiva em um grupo de pessoas por meio da propagação de fake news? Esse tipo de comportamento coletivo já aconteceu antes na história. Qual a chance de estarmos vivendo situação semelhante à do contexto nazista na Alemanha do entre-guerras?

      2. Contradição é uma espécie de distúrbio psicológico? Ou a contradição também pode ser um subterfúgio utilizado como estratégia para bandidos e mau caratismo?!!

        1. A dissonância cognitiva não pode ser sentida ou percebida por atores externos, pois, acho que isso é redundante, só nós sabemos o que sentimos e quanto sentimos.

    2. claramente vc não entende nada de psicologia e/ou filosofia, e muito menos de dissonância cognitiva, mas por alguma razão acha que tem direito de opinar sobre isso.

    3. Vc, O pensador brasileiro, é um exemplo de “lavagem cerebral”, e manipulação…..da mídia corporativa, e de nichos neo-conservadores-liberais nas redes sociais
      Subproduto da “guerra híbrida” contra o Brasil.

    4. Caro Pensador Brasileiro:
      Eu vejo de modo contrário. Você foi convencido a crer que Lula é corrupto. E, embora não se tenha provas de que ele roubou o País (falo do próprio Lula, não de outros membros do PT) , vc fica tentando ajustar (justificar) essa sua crença ao reproduzir informações falsas e sem consistência. Essa postura, de certa forma, ajuda a conformar o seu pensamento à realidade desejada, evitando ter que aceitar que até hoje (2021) não tem nenhum documento que prove que Lula é dono do Triplex, por exemplo. Outros foram realmente a fundo na corrupção e foi provado, pois devolveram dinheiro. Mas o Lula é só achismo. Não tem provas.

  2. Eu por exemplo estou há dois meses estabelecendo contato zero de uma relação que me causou muito mal. Mas mesmo assim sinto falta da ex-companheira. Parece uma dependência química, vc sabe que a droga lhe faz mal e mesmo assim sente falta.

    1. Sei o que você quer dizer. É realmente uma dissonância sentir falta e até amor por alguém que de alguma forma causou sofrimento intenso durante a relação. Pra mim, foi análogo aquela sensação de que um membro amputado do corpo ainda fosse sentido como se estivesse presente (acho que o nome é síndrome do membro amputado). Acho que esta dissonância se dissolve com o tempo, Quanto tempo vai levar depende da sua atitude. É como dependência mesmo. E se você conhece os princípios seguidos pelos Alcoolatras Anônimos, lembre-se da regra principal: evite o primeiro gole. Não ligue, não atenda ligações, não mande mensagens, não dê uma pra matar saudades. Deixe pra “ser amigo” da sua ex quando já tiver se curado da dependência. E procure outro alguém te faça bem. Rital Lee estava certa quando dizia que “doença de amor se cura com outro”

  3. Aqui está um exemplo de dissonância cognitiva. O sujeito acha que o Lula é inocente.
    Como o autor disse, a maioria das pessoas quer manter a crença de que fazem boas escolhas…

    Então ao ver notícias do Lula preso, ele prefere procurar outras notícias que suportem a crença dele de que o Lula é inocente. Ou seja, ao invés de mudar a crença, ele busca notícias consoantes com a crença “Lula Inocente”.

    Mas quanto mais eu leio e analiso, vejo que as pessoas que vencerão na vida são aquelas dispostas a mudar suas crenças, por ser o caminho mais difícil, poucas seguiram nesse caminho.

  4. Primeiro uma dúvida: a tradução de A Theory of Cognitive Dissonance não seria “Uma teoria de Dissonância Cognitiva” ao invés de A teoria (…)? Segunda pergunta. Considerando o momento político atual, onde milhares de pessoas se identificam tanto com uma crença de que as urnas foram fraudadas, que estão dispostas a cometer crimes eleitorais, crimes contra a constituição, exposição a riscos físicos e psicológicos – sem falar no ridículo causado por excessos, podemos inferir que a dissonância cognitiva pode ser coletiva e induzida pelas mídias sociais a que estamos ligados? Quero dizer com isso que estes atos que pedem golpe militar ou qualquer outra forma de negação do resultado das eleições não estariam acontecendo caso o vencedor fosse o adversário de Lula. Com certeza haveria protestos e muitas lágrimas, como em 2018, mas dificilmente alcançaria o grau de histeria que temos visto nos grupos bolsonaristas.

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